terça-feira, 5 de julho de 2011

As crianças e a natureza


      Olá a todas e todos!  
     No Documento: “Critérios para um Atendimento em Creches que respeite os Direitos Fundamentais das Crianças”, um dos direitos apresentados é o “Direito ao contato com a natureza”. Ali está posto o direito das crianças ao sol; brincar com água, com gravetos, areia, argila e outros elementos da natureza; ao passeio ao ar livre, visita a parques, jardins, zoológicos; a aprender a observar, amar e preservar a natureza.
Gostaria de refletir um pouco mais sobre esse direito. Para isso, vou me basear nas reflexões trazidas por Léa Tiriba, no texto: “Crianças da natureza”.
A autora inicia o texto trazendo a necessidade de religar o ser humano a natureza, uma vez que, no mundo da modernidade, houve um divórcio nesta relação. O ser humano tem uma visão utilitarista e antropocêntrica no que se refere à natureza, como se não pertencesse a ela ou fosse de uma espécie superior, em que a natureza está a seu serviço (água para o homem beber, terra para o homem plantar sua comida, etc). Visão reforçada nas crianças em uma prática muito comum nas instituições de educação infantil: a plantação do feijão no algodão: faz-se para mostrar as crianças como as plantas crescem, mas assim que isso é observado, a planta é jogada fora, afinal já serviu a seu propósito: a aprendizagem do homem. Com isso as crianças aprendem que a natureza pode ser descartada.
Léa Triba nos pergunta: Que herança ética, estética, cultural e ambiental deixaremos para os que virão depois de nós?
      A Educação ambiental tem como objetivo promover a religação do homem com a natureza através da razão e da emoção, é uma “educação fundada na ética do cuidado, do respeito a diversidade cultural e da biodiversidade” (TIRIBA, 2010, pág 2).
     Se é razão e emoção, não se trata apenas de uma apropriação intelectual, como bem disse Helle Heckmann no vídeo: Jardim da Infância Nokken, um vídeo belíssimo que mostra essa relação intensa das crianças com a natureza em uma instituição Waldorf dinamarquesa. A Pedagogia Waldorf, aliás, tem como pilar justamente essa relação.

Para religar as crianças com a natureza é preciso um olhar de respeito, admiração e reverência à ela. Neste sentido, não basta construir cartazes com frases de impacto em relação ao respeito ao meio ambiente ou incentivar as crianças a fazerem, mas é preciso uma ligação profunda e freqüente delas com os elementos naturais: sentir a água, o barro, a grama, o vento.

“Autores do campo da psicologia ambiental (Profice, 2010) afirmam que as crianças apresentam uma tendência à aproximação e familiaridade com seus elementos, uma afeição pelas coisas vivas, denominada biofilia; na medida em que são afastadas dos ambientes naturais, esta afeição pode não se desenvolver, gerando, ao contrario, sentimento de desapego e indiferença ao mundo natural. (TIRIBA, 2010, pág. 7)

Estamos imersos em uma “cultura da limpeza”, em que associamos o barro e outros elementos naturais com sujeira e doença, por isso a idéia de que devemos  “proteger” as crianças dela. Esse é um mito que precisamos enfrentar se de fato queremos promover essa religação.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil também trazem uma reflexão sobre o tema. Neste documento está expresso que:

Art. 9o: As práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira, garantindo experiências que:
VIII – incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e a natureza.

A vivência profunda com a natureza possibilita que as crianças a explorem e indaguem sobre seus fenômenos, construindo hipóteses sobre como as coisas acontecem. Uma outra dica sobre essa relação e a construção de hipóteses da criança é o vídeo: Brincando com os Elementos, da Casa redonda, que traz experiências vividas pelas crianças com a terra, o ar, a água e o fogo.
Mas essas experiências só podem acontecer se as crianças se constituírem como sujeitos de seus corpos e movimentos, se forem sujeitos dos espaços naturais e sociais onde vivem e convivem (TIRIBA,pág 5)
Nesse sentido, afirma Tiriba, é preciso DESEMPAREDAR as crianças, permitir o livre movimento dos corpos e o movimento em espaços amplos (outro direito trazido pelo documento dos Critérios). Isso implica em repensar o espaços físico e o trabalho nas instituições da infância que valorizam as “atividades” em espaços fechados, entendendo muitas vezes, que as crianças aprendem apenas com a fala do adulto e sentadas em carteiras.
Termino com a mesma pergunta trazida no início desse texto: Que herança ética, estética, cultural e ambiental deixaremos para os que virão depois de nós? Pergunta que serve para refletirmos sobre qualquer experiência vivida com as crianças na instituição, e em  todos os momentos da rotina educativa. 
Abraço!


Textos e vídeo citados: 
TIRIBA, Lea. Crianças da Natureza. In Consulta Pública, Ministério da Educação e do Desporto. Coordenadoria de Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 2010 

HECKMANN, HELLE. Jardim de Infância: O dia-a-dia dos jardins de infância. Aliança pela infância (Livro com DVD) 

DVD Brincando com os elementos. Casa Redonda.

3 comentários:

  1. No que diz respeito ao contato com a natureza. Levando em consideração que o mundo se expandiu muito, épocas atrás tanto a criança do meio urbano quanto do meio rural estavam muito mais familiriazadas com o meio ambiente. Brincavam na areia da praia, cultivavam hortas em suas casas consequentemente eram ser mais sociáveis.
    Hoje com a urbanização do mundo as crianças passam a maior parte do tempo confinadas em suas casas frente à televisão. O que na minha opinião às torna invidualista e agressivas. Destruindo plantações, maltratando árvores e animais.
    É papel do educador e principalmente de todo e qualquer ser humano resgatar a concepção de direito à vida.

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  2. Gostei muito do post e das referências...Mas gostaria de alertar que zoológico não é o melhor lugar para exercer o amor pelos animais. Na verdade trata-se de um ambiente cruel, opressor e portanto deseducador onde animais ficam confinados e expostos para o mero divertimento de seres que se julgam superiores!Para quem quiser saber mais: http://www.anda.jor.br/2011/03/08/passeio-ao-zoologico-sob-outra-etica/

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  3. Oi Indy!
    Obrigada por compartilhar o link. São essas contribuições que vão nos fazendo olhar práticas que as vezes parecem tão comuns e óbvias com outros olhos.
    Abraço!

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