Olá a todas e todos!
No dia 29/07 participei do XVIII Congresso Brasileiro da OMEP (Organização Mundial para a Educação Pré-escolar) discutindo o tema da alfabetização na educação infantil. Na ocasião, me fizeram várias perguntas a respeito do tema, algumas muito parecidas com as quais recebo aqui constantemente pelo blog. Gostaria de refletir essas questões com vocês.
É correto utilizar pontilhado na educação infantil? É preciso ensinar o traçado das letras? Existe uma idade certa para começar a alfabetizar as crianças? Deve-se ou não ter letras do alfabeto expostas na sala dos Centros de Educação Infantil? foram alguns questionamentos.
Essas perguntas revelam práticas muito comuns nas instituições de educação infantil, que vêm sendo problematizadas constantemente nas últimas décadas.
Durante muito tempo, se acreditou que para as crianças aprenderem a linguagem escrita, era necessário que primeiro aprendessem as letras do alfabeto e seu traçado, para em seguida juntarem essas letras e assim aprenderem a ler e escrever. Ao saber ler e escrever, as crianças aprenderiam a interpretar os textos, para por último criticá-los e/ ou conseguir produzi-los. [1]
Nas últimas décadas, as discussões a respeito de letramento, alfabetização e cultura escrita[2] vêm procurado desconstruir essa idéia linear. Esses estudos vêm apontando que é possível que as crianças, mesmo antes de ler e escrever convencionalmente, possam ser boas produtoras de texto e façam boas reflexões sobre eles, e que é função dos educadores desde a educação infantil, proporcionar essas experiências para as crianças.
Os estudos de Emilia Ferreiro desconstroem a idéia do aprendizado das letras separadamente. Segundo ela, as crianças sabem muitas coisas sobre a linguagem escrita mesmo antes de aprender a sistematizá-la. As crianças tem hipóteses sobre essa linguagem, mas para aprender a ler e escrever convencionalmente precisam passar por um longo processo no qual a mediação do adulto leitor e escritor é fundamental, uma vez que esse aprendizado não é espontâneo. Nesse sentido, não se trata de uma idade certa e única para esse aprendizado, mas da sensibilidade e da competência do adulto para perceber quando fazer a melhor mediação (que também é realizada na educação infantil), já que para fazê-la é preciso considerar os saberes dos sujeitos que estão em aprendizagem, proporcionando a eles situações em que eles desejem conhecer mais sobre essa linguagem.
Não é tarefa fácil! Exige que o professor se aprofunde no estudo dessas hipóteses e nas diversas formas de alfabetização, para saber qual a melhor intervenção e em que momento, exige também que ele observe atentamente as crianças e seus saberes. Ouso dizer que um dos motivos do construtivismo ter sido tão criticado tenha sido a falta de aprofundamento nos estudos teóricos e na escuta das crianças pequenas, o que exige uma outra formação profissional, muito mais cara e demorada.
Ao nos referirmos aos pontilhados, é importante também retomarmos a história da educação infantil, especialmente na década de 70. Nessa época, surgiram, no caso do município de São Paulo, as EMEIS – Escolas Municipais de Educação Infantil - com foco muito grande na preparação para a escola. Como se acreditava que para aprender a ler, era preciso saber traçar as letras corretamente, então era preciso desenvolver a coordenação motora fina das crianças, através de exercícios de prontidão, em que estas eram submetidas a exercícios mecânicos de cobrir pontilhados, fazer traços e círculos, sem o menor significado.
Ao olharmos para essas práticas que persistem tanto e que nos incomodam muito, precisamos sempre refletir: qual concepção de alfabetização que está por trás delas? Como as crianças são pensadas? Qual o papel da educação infantil na aprendizagem da linguagem escrita? Essas são perguntas fundamentais, que nos dão diretrizes para repensar o que fazemos e podemos fazer com as crianças pequenas.
Um grande abraço desejoso de que esse espaço possa ser um fórum frutífero de discussões,
Janaína
[1] Como apontei, no texto anterior sobre o assunto, Vygotsky em 1918 já criticava a prática escolar em relação ao uso das letras, afirmando que a escola apenas ensinava as crianças a “desenhar” as letras e não a linguagem escrita.
[2] Não é a minha intenção discutir neste texto esses conceitos e suas implicações. O texto “Alfabetização e Letramento: Implicações para a educação infantil” de Luis Percival Leme de Brito, faz um histórico interessante sobre o tema.
Janaína
ResponderExcluirApenas para completar o que você já escreveu...
Precisamos lembrar que não pensaríamos em "pontilhados" ou exercícios de "prontidão" se as crianças vivenciassem/ explorassem os espaços; a cada dia restringimos mais e mais nossas crianças sentadas em carteiras por horas e horas. Seria fácil se, como dizia Wallon, possibilitassemos aos pequenos vivenciar sua infância - "Do ato ao pensamento".
Um abraço de sua ex aluna,
Claudia
Eu acho valido o uso de pontilhados, facilita o aprendizado do traçado das letras, ms lógico q acompanhado de atividades diferenciadas de coordenação motora fina. Por exemplo, no meu municipio temos uma apostila q temos de utilizar junto com outros tipos de materiais e as vezes as crinças tem q completar com letras ou palavras ja no primeiro bimestre. Eu uso os pontilhados nesses casos com algumas q ainda não conseguem escrever, ms é questao de tempo e elas ja conseguem sozinhas
ResponderExcluirOi Sol!
ResponderExcluirObrigada por ter escrito.
Que atividades diferenciadas você realiza?
Você está dizendo que as crianças não fazem o traçado das letras, ou não entendem o sistema alfabético, já que são duas coisas diferenciadas? Uma coisa é não compreender convencionalmente como as coisas são escritas e a outra é fazer os traçados das letras. O fato das crianças fazerem os traçados das letras, não significa que sabem escrever convencionalment, já que esse é um processo muito mais complexo.
Abraço!
Além disso temos que levar em conta a idade desses alunos que a SOL comentou no post de cima.O que eu questionaria sobre pontilhados, seria mas sobre a idade do que qualquer outra coisa.Uma criança de 3, 4 ou até mesmo 5 anos precisa de outros estímulos, outras atividades para desenvolver a coordenação motora fina dessas crianças.Quando essas crianças são bem preparadas, quando conseguem desenvolver bem essas habilidades, o pontilhado fica desnecessário!!
ExcluirMarissol
Além disso temos que levar em conta a idade desses alunos que a SOL comentou no post de cima.O que eu questionaria sobre pontilhados, seria mas sobre a idade do que qualquer outra coisa.Uma criança de 3, 4 ou até mesmo 5 anos precisa de outros estímulos, outras atividades para desenvolver a coordenação motora fina dessas crianças.Quando essas crianças são bem preparadas, quando conseguem desenvolver bem essas habilidades, o pontilhado fica desnecessário!!
ExcluirMarissol
Olá Janaína, faço parte da OMEP, sou especialista em educação infantil, apesar de trabalhar mais com Gestão Educacional, trabalho na Secretaria Municipal , participei do Congresso e adorei sua apresentação, sou também do Proinfantil e mantenho muito contato com a Ordália, Regina e Ângela da UFMGS, parabéns pelo seu trabalho em prol da educação infantil. Um abraço Magnólia
ResponderExcluirOi Magnólia!
ResponderExcluirObrigada pelo elogio!
Nos últimos três anos, trabalhei com formação de gestores da Educação Infantil no Município de São Paulo. Foram lançadas três publicações a respeito desse trabalho. Se você quiser conhecê-las, é só acessar o link: http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/BibliPed/Anonimo/Educa%C3%A7%C3%A3o%20Infantil.aspx?MenuID=18&MenuIDAberto=12
Grande abraço!
Cara professora Janaína;
ResponderExcluirComo graduada em pedagogía e fascinada por alfabetização, me arrisco à dizer que, o problema é maior do que a relação entre alfabetização e motricidade.
Acredito que precisamos voltar lá no macro, nossas reflexões devem começar pela pergunta o que é educação.
Fui alfabetizada numa época em que acreditava-se piamente na reprodução das informações e cópias de textos. Quanto mais a criança copiasse e lesse texto mais rápido e melhor ela aprenderia.
Eu, você e, acredito que todos os seguidores de seu blog somos fruto dessa escola. Assim sendo, infelizmente podemos concluir, que paramos no tempo em termos de educação.
A escola é eficaz
Depende dos objetivos. Hoje muito se fala em mudança em formação do aluno reflexivo, e no entanto, nós educadores continuamos presos à questionários, cópias de textos e interpretações de textos lineares.
Trazendo Paulo Freire à essa discussão,infelizmente, o modelo de educação de que vemos hoje, só interessa ao opressor. Ou, não sendo essa a intenção, para que interpretação de textos, com exigência de que as respostas sejam copiadas para serem consideradas corretas pelo professor
Precisamos refletir sobre essas questões.
Olá!
ResponderExcluirÀ procura de informações que embasassem meu pensmaneto, coloquei no google o método de tracejamento, e foi-me indicado este site.
Sou mãe de uma criança de 4 anos e meio. Ele está no infantil de 4 anos em uma escola municipal. Conhece as letras há tempos, no início por associação, e hoje, já sabe discerni-las por meio da audição. Bem como já escreve há meses todas elas e os números.
Eu fui ensinando-o, bem como livros e TV (programas educativos).
Raramente usa o espelhado, apenas quando está desatento. E agora estou em um dilema.
A professora enviou-me uma folha com o pontilhamento da sletras e números, e as setas de direção, que considera como a forma correta da escrita. Poré, em algumas palavras e números, meu filho fazia de forma diferente, mas sabia o que significava, e para ensiná-lo da forma que me foi indicada, está sendo altamente confuso para a cabeça dele.
Não acho que este método é correto. Por que fazê-lo escrever como todo mundo se ele já aprendeu a escrever da forma dele, que no final, chega ao querido, de forma legível inclusive. Não importa como ele chegou, mas sim, que chegou. Forçá-lo a faezr como todos pensam ser o correto, para mim, é desaprender.
Há alguma dissertação acerca disso, ou textos publicados que debatam a necessidade de seguir tal método pontilhado e direcional? Obrigada
Oi Taiana,
ResponderExcluirDesculpe a demora em responder, mas vida de professora é sempre corrida!
A primeira questão a ser pensada é: por que uma criança de 4 anos precisa aprender a fazer traçado das letras corretamente? Qual o sentido que isso tem para o seu filho nesse momento? Qual a necessidade de apressarmos esse aprendizado em detrimentos de outros tão importantes nessa fase?
Um autor muito utilizado pelos pedagogos até hoje, por toda a sua contribuição para a educação, chamado Levi Wygotsky, já em 1918, apontava que a escola não ensinava a ler e a escrever, mas sim a desenhar letras. Hoje, quase 100 anos depois, essa ainda é uma preocupação recorrente.
Esse mesmo autor aponta a importância do brincar e de desenhar para o desenvolvimento da linguagem escrita. Isso acontece porque essas atividades ajudam a criança a simbolizar e esse é um conhecimento importante para elas aprenderem a ler e escrever que nada mais é do que um processo simbólico. As vezes as crianças copiam letras muito bem e as reconhecem, mas não conseguem escrever ou ler corretamente ou não tem repertório para produzir bons textos (inclusive as mais velhas!).
Tenho ficado assustada com a ansiedade em obrigar as crianças cada vez mais novas a aprender tracejados com exercícios mecânicos e sem sentido, que contribuem para que elas tenham experiências muito ruins com a escola e com o conhecimento. A escola de educação infantil que pode ser um lugar de descoberta de coisas novas, geradoras de curiosidade e experiências importantes como brincar, dançar, pintar, interagir com outros, conhecer boas histórias, descobrir e fazer ciência, torna-se um lugar que as crianças querem se afastar cada vez mais cedo.
Grande abraço!
Engraçado voces falam bonito quero ver no dia a dia onde se os pais fossem presentes e nao sao na grande maioria nao precisaria ficar entupindo as crinças de atividades porem isso fico somente em nossas mao , muitas vezes aplicamos o tracejado como forma de soltar a mao o pulso eles estarem mais familiarizado com os movimentos, ja que estes fora da escola nao sao trabalhados devido a falta de incentivo da familia e devido a nossa tecnologia que nos aprisiona. nem sempre o que ta no papel serve para o dia a dia reflitam
ResponderExcluirConcordo com você Anonymous.Faltam recursos, falta ed. Continuada, enfim várias questões....
ResponderExcluirOi Anônimo, tudo bem?
ResponderExcluirAssim como você também trabalhei na Educação Infantil durante muitos anos e sei o quanto a relação com a família pode ser desafiadora, mas também cheia de possibilidades. Dá uma olhada lá nas minhas postagens sobre isso para conversarmos melhor sobre esse tema.
Quanto ao soltar o pulso das crianças para prepará-las para a escrita, há diversas possibilidades de fazer isso através de jogos e brincadeiras como o peão, por exemplo. Me avise se quiser umas dicas de brincadeiras tradicionais que contribuem para a coordenação motora fina, sem deixar de dar espaço para que as crianças possam aproveitar suas infâncias na escola. Abraço forte!
BOM DIA JANAÍNA MAUDONNET.
ResponderExcluirSEU TEXTO É BASTANTE ESCLARECEDOR. É NECESSÁRIO MOSTRARMOS AOS NOSSOS EDUCADORES COMO E O PORQUÊ QUE SURGIU OS PONTILHADOS. DEVEMOS LEMBRAR QUE ATIVIDADES PEDAGÓGICAS SIMPLES PROMOVEM MELHORES RESULTADOS QUE O PRÓPRIO PONTILHADO. POR EXEMPLO, LEVE O COELHO ATÉ SUA TOCA - NESSE CASO, ESTARÍAMOS TRABALHANDO DA ESQUERDA PARA A DIREITA, DE CIMA PARA BAIXO E O PRÓPRIO TRAÇADO, OU SEJA PREPARANDO A CRIANÇA PARA A PRÓPRIA ESCRITA DE CIMA PARA BAIXO D ESQUERDA PARA A DIREITA. TEMOS QUE LEMBRAR TAMBÉM A IMPORTÂNCIA DO DESENHO LIVRE, DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA, DAS ATIVIDADES COM COLAGEM, RASGADURA, DOBRADURA, TUDO ISSO DESDE A MAIS TENRA IDADE. ABRAÇOS.