Olá a todas e todos!
Devido a reportagem sobre a aplicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil na prática que saiu na Revista da Editora Segmento (postagem anterior), elaborei um texto sobre o tema. Segue abaixo para discutirmos.
Abraço!
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil apontam para uma visão de criança como “centro do planejamento
Curricular”, como um sujeito de direitos que é portador de teorias, saberes;
que pensa sobre o mundo e atribui sentido
à ele a partir do que lhe é oferecido; uma criança que não passa
incólume às propostas que vivencia
desde sua chegada até a saída da instituição.
Nesse sentido, define currículo como “um conjunto de práticas que buscam
articular os saberes e experiências das crianças com o patrimônio cultural,
artístico, ambiental, cientifico e tecnológico, de modo a
promover o desenvolvimento integral da criança”. Ou seja, currículo não é
aquele que se define a priori, mas aquele que é vivenciado com as crianças a
partir de seus saberes, manifestações, articulado com aquilo que consideramos
importante que elas conhecem do patrimônio da humanidade.
Embora, a aceitação dessas concepções de criança e
currículo não seja, a primeira vista, um grande problema em um nível discursivo
entre a maioria dos profissionais da educação, para de fato incorporá-las nas
práticas, ainda há um longo caminho.
O foco das propostas oferecidas às crianças ainda está,
na maioria dos casos, na atividade a
ser desenvolvida por ela, seja essa atividade uma contação de histórias, um
registro no papel, uma dança, uma música a ser cantada, ou ainda, a troca de
roupas e a escovação de dentes. As
relações estabelecidas, os conhecimentos que as crianças tem sobre o que vai
ser vivido, as indagações que tem sobre o mundo, muitas vezes não são ouvidas
ou são desconsideradas na organização das propostas.
Para praticar o que dizem as DCNS, precisamos apurar o
nosso olhar em relação as crianças que temos: o que sabem, o que gostam, como
pensam o mundo, como se manifestam, o que conhecem, como conhecem. São
perguntas que todos os educadores devem se fazer sempre para buscar a melhor
pedagogia para as crianças com as quais convivem. Para isso, precisam
desenvolver uma metodologia de coleta de informações que passa pela observação
atenta, pela pesquisa (“professor pesquisador”). Por exemplo, em relação ao brincar: do que as crianças
brincam? Quais são suas brincadeiras preferidas? Qual seu repertório de
brincadeiras? De que modo podemos ampliá-lo? Que materiais podemos oferecer às
crianças para ampliar suas possibilidades de brincar? O educador precisa ser um
constante pesquisador.
Em um texto belíssimo, intitulado, “Planejamento no educação infantil: mais do que a atividade, a criança
em foco”, Luciana Esmeralda
Ostetto destaca diferentes maneiras de planejar na educação infantil que
fizeram parte da história da Educação Infantil e da formação de professores e,
que ainda convivem na prática (por exemplo, planejamento através de uma simples
listagem de atividades, de datas comemorativas, de disciplinas – matemática,
português,etc.) e ressalta que o grande desafio que temos hoje é
justamente, planejar olhando as
crianças concretas que temos.
A referência da escola, transmissora de saberes, ainda é
muito forte em nosso imaginário. Essa foi nossa experiência como alunos,
considerados como aqueles que não tem luz, que não tem o que dizer (infans –
sem voz). Nos próprios cursos de formação, muitas vezes os professores também
são submetidos a isso: palestras distantes, que nem sempre permitem que eles
coloquem em jogo aquilo que sabem, fazem e acreditam.
A preocupação com a quantidade e o produto final do
trabalho é também um grande desafio das instituições de educação infantil.
Estas estão submetidas aos mesmos mecanismos de exigência social do capitalismo.
Muitas vezes, quanto mais “folhas de atividades” são produzidas pelas crianças,
mais eficiente é considerada a proposta. Essa é uma exigência de muitas
famílias, que não percebem essa dimensão, e que acaba sendo consolidada por
muitas escolas.
Para se trabalhar na perspectiva das diretrizes, é
preciso pensar no processo. As crianças precisam ter tempo para viver as coisas
profundamente, ter oportunidade de sentir as experiências, poder ouvir uma boa
história, sem pressa porque vai abrir o portão; aprender a se servir e se
trocar, testando suas habilidades, sentindo suas dificuldades, com calma.
Enfatizar o processo é importante porque dá tempo para a criança se perceber e
perceber o mundo com mais tranqüilidade e portanto mais profundamente.
Tempo é outro fator que tem que ser continuamente
repensado na instituição. Há um grande mito que resvala em boa parte das
instituições: “todo mundo faz a mesma
coisa ao mesmo tempo o tempo todo”.
O tempo da instituição ainda é muito homogêneo e arbitrário. Ainda se
exige muito do educador um controle excessivo das crianças que precisam sempre
fazer alguma coisa juntas e em um determinado horário fixo, rígido. A
organização de cantos nas salas, por exemplo, hoje tão debatida na área, ajuda
o educador a se concentrar em pequenos grupos, em uma criança, possibilitando
que ele possa conhecê-las melhor.
Nesse sentido, é preciso discutir também a relação com o
espaço. Um espaço pobre de desafios, cheio de mesas e carteiras, como poucos
materiais disponíveis dificulta que a criança possa ampliar seu conhecimento de
mundo e crie hipóteses sobre como as coisas do mundo são. Por outro lado, o
contato com a natureza e os espaços externos, permitem que as crianças,
observem os fenômenos e se indagem sobre eles: por que a formiga consegue subir
em cima de uma árvore sem cair? Porque o vento sopra? São perguntas que as
crianças se fazem quando damos tempo e espaço para que elas descubram. E nos
fornecem caminhos muito mais interessantes para trabalharmos com elas.
Para colocar em práticas as DCNS é preciso repensar a
instituição em seu todo: nos tempos, nos espaços e na relação que estabelecemos
com o conhecimento, e principalmente, com as crianças. Para isso, o trabalho
coletivo é fundamental. A instituição, seja pública ou particular, precisa como um todo, através de uma
gestão democrática - que escuta todos os sujeitos (famílias, profissionais e
crianças) - se comprometer com essa proposta.
A escuta e o diálogo são fatores essenciais para que as
Diretrizes possam ser praticadas. Inclusive a escuta das famílias, com as quais
(e as DCNS apontam tão claramente
isso!), devemos compartilhar a educação e o cuidado das crianças pequenas. Essa
escuta permite que conheçamos mais as crianças, que busquemos propostas que
considerem melhor suas singularidades, os hábitos familiares, além de
contribuir para a reflexão de uma outra cultura da infância na comunidade, que
valorize as descobertas da infância, sem que esteja ligada a mera transmissão
ou a quantidade de atividades produzidas pelas crianças, como apontei
anteriormente.
Muito bom, Janaina, vou utilizar, o texto está em linguagem simples e é ao mesmo tempo muito rico.
ResponderExcluirAcredito que as grandes mudanças de papéis sociais,são as maiores responsáveis pelo ensino mecanizado. Se, em sua origem a escola de educação infantil tinha por objetivo somente acolher a criança em um espaço seguro. Hoje com o mercado de trabalho cada vez mais exigentes, a preocupação dos pais com a qualidade do ensino, já na Educação Infantil se mostra evidente quando os pais dizem à seus filhos: não basta ir à escola ou ser um bom aluno, você precisa ser o melhor.
ResponderExcluirPorém em meio há tantas ofertas de escolas com "propostas e métodos" diferentes, os pais precisam questionar-se:o que eu acredito ser um bom ser humano um ser humano que passará a vida inteira competindo para se destacar. Se assim for, é simples. Pais matriculem seus filhos em uma escola que forme as melhores cabeças.
Gostei das sua colocações. Indicarei a leitura no meu blog. Amplexos.
ResponderExcluirOlá Janaina, tudo bem?
ResponderExcluirTrabalho no SESC Itaquera, onde acontecerá neste mês um mini curso sobre Consumismo Infantil, dentro de nossa programação de Natureza Pedagógica e gostaria de enviar a você e os leitores do pedagogiacomainfancia um convite.
Para qual email posso enviar?
Abraço,
Ana
Oi Ana! Pode enviar para jmaudonnet@yahoo.com.br. Abraço!
ResponderExcluirOi Ana!
ResponderExcluirPode enviar para jmaudonnet@yahoo.com.br
Abraço!
Olá Janaína, adorei suas colocações. Este é um dos grandes desafios da Educação Infantil, transpor para a prática o que diz a lei. Vou divulgar o texto em meu blog. Faça uma visita por lá e deixe um recadinho.
ResponderExcluircriancapequenina.blogspot.com