domingo, 20 de janeiro de 2013

A importância do toque para os bebês: entre luvas e mãos

Olá pessoal!
Uma reflexão realizada pela enfermeira/ educadora Damaris Maranhão causou algumas polêmicas no facebook esses dias. A partir dessa postagem iniciou-se uma discussão sobre o uso das luvas na troca de fraldas dos bebês nas instituições de educação infantil.
Aproveitando o tema, gostaria de refletir um pouco sobre isso. 
Muitos defensores das luvas descartáveis argumentam a proteção que esse equipamento fornece a crianças e adultos. Concordo que a proteção é essencial, ainda mais em um ambiente coletivo como aquele que atende dezenas de crianças. Mas uma boa lavagem das mãos entre uma troca e outra fornece também proteção e é preciso levar em conta que   o toque para os bebês é fundamental para a constituição deles como sujeitos. 

No site da rede psi tem um artigo muito interessante sobe o tema, que eu reproduzo aqui em partes. Quem quiser ler na integra, é só acessar: http://www.redepsi.com.br/portal/modules/smartsection/item.php?itemid=411



O contato de pele com pele tem a possibilidade de transmitir várias mensagens ao outro, sobre como estamos nos sentindo. Os neurotransmissores e nervos levam até o sistema nervoso central a “mensagem enviada” (através do toque) e este (o sistema nervoso central) modula, por meio dos próprios neurotransmissores e nervos e, das células imunitárias cutâneas, o estado da pele.

Como para o bebê, no seu início de vida, seu mundo está limitado às suas necessidades corporais, a mãe* deve lidar com ele em uma linguagem que este compreenda, assim, segundo Winnicott¹, “ela ama de um modo físico, proporciona contato, calor corporal, movimento e quietude de acordo com as necessidades do bebê” (Winnicott, 2000, p.237). Através disso é possível perceber a função essêncial que o toque terno e amoroso exerce na vida e no desenvolvimento do bebê. Este sente-se querido ou não em função do toque que recebe das pessoas que cuidam dele, e mais tarde, isso interferirá na sua visão de si mesmo, nas suas relações interpessoais, na sua auto estima, entre outras coisas. 
 É importante atentar para a importância deste ato e deixar alguns preconceitos de lado. Mesmo com todos os estudos e orientações, muitos pesquisadores da atualidade ainda vêem a relação dos pais com seus filhos (no mundo ocidental de forma geral) sendo permeada pelo medo de que as crianças cresçam muito dependentes. Assim, muitos pais ainda pensam que pegar muito o bebê ou deixá-lo muito no colo pode, posteriormente levá-lo a ser uma criança manhosa e mimada. Em resposta a esse comportamento, os pesquisadores dizem que os pais estão no caminho errado: o contato físico e a segurança proporcionada por estes farão das crianças mais seguras no momento em que for necessário haver o afrouxamento dos laços entre elas e os pais, e mais capazes de formar relações maduras quando elas finalmente se tornarem adultas. 1-Donald Woods Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, desenvolveu um ponto de vista psicanalítico diferente do que se apoiava em sua época, a respeito do desenvolvimento dos bebês, e também uma outra forma de trabalhar com eles. 


Embora o artigo se diriga a mãe ou pais, no caso das instituições da infância, são as educadoras/es que passam a maior parte do tempo com os bebês e são elas/eles responsáveis por seus cuidados no tempo em que estão ali, portanto a mesma necessidade de toque é válida para esse relação.



A experiência de Lóczy, uma instituição da Hungria nos ajuda muito nessa discussão.  Fundada em 1946, no final da segunda guerra mundia, Loczy foi uma instituição criada para  acolher crianças órfãs e/ou abandonadas. Hoje é considerada uma referência mundial no cuidado de bebês em instituições educativas coletivas. Entre as premissas dessa instituição estão a segurança afetiva e a motricidade livre. Dentro da idéia de segurança afetiva, o contato físico, as ações repeitosas e os gestos delicados nos momentos de troca de fraldas  são fundamentais. Segue abaixo um vídeo com um exemplo de troca de fraldas realizada  em Loczy. Também indico o texto das Professoras Anita Freitas e Maria Helena Pelizon para quem quer conhecer mais sobre essa experiência http://www.sumare.edu.br/Arquivos/1/raes/05/raesed05_artigo02.pdf 









A troca de fraldas não pode ser encarada apenas como um cuidado físico das crianças, mas é um momento extremamente significativo, que envia poderosas mensagens aos bebês sobre quem eles são e como os vemos enquanto sujeitos. E o toque, o contato físico fazem parte dessa mensagem.
Abraço fraterno!


Texto da Professora Damaris Maranhão: 

A falsa proteção
Um exemplo que podemos problematizar aqui é o da frequente demanda dos professores para uso de luvas de procedimentos no processo de cuidado corporal da criança em creches e pre-escolas, sobretudo quando trocam fraldas ou banham as crianças. Em uma cena documentada em vídeo e problematizada conosco observa-se uma professora trocando uma criança de cerca de um ano de idade. Ant...es de retirar a fralda da criança ela pega uma luva que estava armazenada sobre uma prateleira próxima ao trocador e a veste, depois realiza o procedimento e a seguir retira a luva e a guarda no mesmo local. Qual o problema deste procedimento? Porque a professora utiliza este tipo de luva? Qual sua intencionalidade? Em primeiro lugar ela não lava as mãos antes de calçar as luvas. Em segundo lugar a luva é de modelo fabricada e comercializada como equipamento de proteção individual para serviços de higiene ambiental e não é descartável. Em quarto lugar ela retira a luva e a guarda com todos os micróbios que cresceram no interior dela durante o uso ( e que estavam dentro da própria luva já utilizada previamente por ela ou por outros educadores e também na superfície de sua mão) para uso posterior. Em quinto lugar ao fazê-lo ela contamina o seu antebraço e a superfície da mesa e o vestuário e sacola da criança. E o pior, ao invés de se proteger ela aumentou os riscos de exposição de si mesma aos micróbios e os disseminou no ambiente.
Em outro evento os professores discutiram inflamadamente ao serem informados sobre este risco de falsa proteção e ao final do evento vieram conversar individualmente comigo argumentando que o faziam porque na creche havia uma criança soropositiva para o HIV. O que nos leva a estranhar este comportamento é o fato deste argumento dos professores revelar desinformação que geram preconceitos relativos ao risco e mecanismos de transmissibilidade das doenças mais comuns na comunidade.
Parece-nos que o temor dos professores e o desconforto em cuidar de uma criança pequena, sobretudo em lidar com secreções humanas pode estar associado ao fato deles não terem sido formados para construir atitudes e procedimentos de cuidado humanos. Este fato pode torna-los mais vulneráveis as emoções que permeiam o processo de cuidar do corpo de outra pessoa.
Este pequeno texto tem como objetivo problematizar e contribuir com a formação continuada dos professores e outros profissionais de educação infantil. Qualquer semelhança é mera coincidência!
Damaris Gomes Maranhão - São Paulo, 17 de janeiro de 2013

3 comentários:

  1. Acredito que é de fundamental importância o toque direto na pele dos pequenos, ou melhor, nem todas as idades, mas em alguns momentos, como nas trocas de fraldas, (principalmente de fezes)não vejo problemas no uso de luvas, para o contato fisico direto há outros momentos,como exemplos: trocas de roupas, banho, brincadeiras, etc. Penso que em nossa tarefa diária e com a correria, a higienização das mãos entre as trocas de uma cça e outra, não garante a segurança da saúde dos profissionais.

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  2. Lendo o texto postado vemos que o uso incorreto das luvas como acontece na maioria dos casos, só aumentam os riscos de contaminação. Ao usar uma mesma luva em varias crianças demonstra um preconceito e descaso com a saúde da criança, pois o educador esta preocupado em não se contaminar ao lidar com a mesma, mas ao cuidar de outra criança com a mesma luva demonstra que não se preocupa em contamina-la com as possíveis doenças de que se protegeu ao usar a luva. Como educadores somos responsáveis também em zelar pela saúde das crianças, e não expô-las a situações de risco.

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  3. Fiz parte desta discussão no Face, os procedimentos devem ser avaliados, pois quem nunca quis uma luvinha quando abriu a fralda e achou uma bela diarreia, e qual educador não pegou uma virose, que atire a primeira pedra, lavar a mão é uma questão de higiene, porém a higiene das mãos deve ser uma coisa muito bem feita pois as unhas carregam bactérias,o que também possibilita contaminação nas crianças, assim o toque também passa a ser nocivo se o professor não higienizar corretamente suas mãos. O assunto é muito polêmico e complexo, a cada vez que leio sobre o assunto percebo que alguns gestores e pseudos pensadores passam a ideia de preconceito por parte do professor de Educação Infantil, o que realmente falta é sim uma parceria entre secretarias de saúde e educação para a melhoria do trabalho pedagógico. Não acho errado o professor utilizar as luvas de material adequado (principalmente se não for de látex), o problema é que vai demandar disponibilizar recurso(verba) para a compra e ai é que como diria o dito popular "A porca torce o rabo".Ou seja....começa o cada um com o seu cada um e um monte de achismo fundamentado em teorias, simples assim. ;)

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