domingo, 17 de janeiro de 2016

Como envolver os pais na escola?

Olá a todas e todos!

Hoje publico uma entrevista minha para o canal Net Educação sobre a relação escola e família.
O título do reportagem é: Como envolver os pais na escola?

Segue o link para quem se interessar:
https://www.neteducacao.com.br/noticias/home/como-envolver-os-pais-na-escola

Abaixo algumas reflexões sobre o tema:



   O diálogo com as famílias exige de nós um olhar para nós mesmos, uma reflexão crítica sobre nossos modelos de arranjos familiares e papéis sociais das famílias. Precisamos olhar grupos familiares concretos, nas suas condições de vida, nas suas possibilidades de soluções para os problemas cotidianos e nos seus contextos socioculturais.
     É possível, nas condições objetivas que temos hoje de trabalho na sociedade que todas as famílias participem das reuniões de pais? Todas tem dispensa de ponto de seus empregos para isso? Há um projeto de lei que obriga as empresas a dispensarem seus funcionários para as reuniões, mas ainda isso não é algo previsto legalmente, depende da boa vontade dos empregadores. Além disso, temos concretamente um número grande de familiares que trabalham em empregos informais, são profissionais liberais...
    É necessário diversificar os canais de participação. A reunião de pais é uma forma e precisa ser pensada em horários alternativos. Nem todos podem participar da mesma maneira e nas condições ideais. Assim, não dá para pretender que todas tenham participação igual. Quanto mais amplo o leque de alternativas de participação que a escola oferecer, mas possibilidades se abrirão para as famílias. Horários para atendimento individual; participação em projetos da escola (contando histórias, falando de sua profissão, ensinando uma receita gostosa); festas coletivas; compartilhamento e reflexão conjunta do trabalho da escola através de uma documentação pedagógica consistente; participação nos processos decisórios através de Conselhos de Escola e APMs que realmente sejam fruto de um processo democrático e não manipulatório; e principalmente, um acolhimento diário e respeitoso que considere o outro como sujeito e parceiro no processo de educação das crianças são algumas possibilidades que não podem ser consideradas isoladamente.

Há uma questão de fundo: Para que são chamados as famílias? Há uma tradição  de organizar a pauta de reunião de pais com longos informes das regras e dos procedimentos que as famílias devem se comprometer e ao final da reunião é organizada uma conversa sobre o comportamento dos filhos. Houve muita mudança, muitos avanços, mas é uma prática que ainda persiste em algumas escolas. Será que a participação das famílias se resume em controlar o comportamento de seus filhos e seguir as regras da escola? O modo como é significado a participação das famílias na escola tem relação com as estratégias e a disponibilidades com que os profissionais vão chamar, acolher e estabelecer o diálogo com as famílias. 

Como temos acolhido e dialogado com as famílias? Tratar da relação com as famílias é falar de expectativas. Expectativas dos profissionais em relação as famílias e das famílias em relação aos profissionais.Toda relação envolve expectativas, descobertas, conflitos. Essa relação não é diferente. Mas quando nos abrimos para compartilhar essas expectativas, descobertas, essa relação adquire outra qualidade, porque ela se torna cada vez mais transparente. Como em qualquer relação, os conflitos são inevitáveis. Não se deve esperar que desapareçam por completo, mas sim que existam canais e estratégias para enfrentá-los e superá-los. Que canais tem sido abertos?

Requer trabalho em parceria. Respeitar o olhar das famílias, suas necessidades, opiniões, aspirações, expectativas, entendê-la como alguém que conhece seu filho e almeja certas aquisições para ele. Boa parte das famílias tem projeto para seus filhos, assim como a escola tem projeto para as crianças  também. Esses projetos dialogam? Ainda que não concordemos com o projeto da família, em que medida se busca dialogar com eles? E o projeto da escola é claro para todos? Mostrar que a escola tem um projeto consistente para o filho cria vínculo e confiança. E confiança não é dada a priori, mas é construída. Toda relação precisa de investimento e para que se possa aprofundá-la necessita de um processo. Essa não é diferente. Poucos e encontros pontuais não permitem esse aprofundamento.
O trabalho com as famílias, envolve também uma reflexão das emoções que essa relação provoca nos profissionais: anseios, expectativas, inseguranças, descobertas. As dimensões emocionais das relações são esquecidas na escola. Não se trata de terapia, mas de uma reflexão profissional sobre como as emoções afetam a relação que são estabelecidas com os familiares. Ao refletir sobre as emoções, não se nega os sentimentos que se criam, mas se aprende a não permitir que eles invadam ou deteriorem a relação. 
Há muitas pesquisas sobre as relações entre escola e família que precisam ser lidas, refletidas e transformadas em temática de formação dos profissionais da educação. Em geral, essa relação não é discutida nem na formação inicial, nem na formação continuada dos profissionais e se constitui como uma dimensão importante do trabalho da escola.





Abraço grande e um ótimo ano novo para todas e todos nós!!!

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