Entre os dias 20 e 22 de
setembro aconteceu o XXXIII Encontro do Movimento Interfóruns de Educação
Infantil do Brasil - MIEIB. A primeira mesa do encontro intitulada: “Política e educação
no Brasil hoje: questões para a Educação Infantil”, teve a participação da
Professora Macáe M. Evaristo dos Santos (Secretária Estadual de Educação de
Minas Gerais), da professora Carmen Maria Craidy (UFRGS) e da Professora
Dalila Andrade Oliveira (UFMG). A mesa trouxe importantes análises do momento
político atual em que estamos vivendo no país e suas consequências para a
Educação Infantil. Embora as três palestrantes tenham trazido questões
importantes (que serão compartilhadas posteriormente nesse blog), a fala da
Professora Carmem Craidy chama atenção pela análise macro da situação política
nacional e internacional. Essa análise de conjuntura nos permite compreender
momento atual vivido no país e nos ajuda a enfrentar os retrocessos que se
sucedem a cada dia.
Golpe no Brasil
A professora Carmem
iniciou sua fala falando da perplexidade e insegurança que o golpe causou
em todos os planos: “um susto por dia: cada dia acontece alguma coisa nova”.
Quais são os agentes do
golpe? Por que isso aconteceu?
A professora Carmem
afirmou que os corruptos que estão no poder não são os principais protagonistas
do golpe, apesar de se aproveitarem dele para se beneficiarem.
“O golpe foi preparado
por muito tempo e se situa em uma conjuntura de recomposição geopolítica
internacional. O capital financeiro que teve um grande baque em 2008, que
provocou uma grande crise do capital, recuo da social democracia na Europa,
eleição de um presidente nos Estados Unidos ultraconservador. Vivemos uma crise
civilizatória que ameaça valores construídos por décadas, a partir da segunda
guerra, valor da liberdade, democracia, solidariedade, igualdade.
No caso brasileiro,
nosso país tem uma história de dominação muito grave, na qual nunca chegamos a
igualdade, nunca chegamos a viver a realidade democrática. Como diz o
Boaventura, o grande desafio é de democratizar a democracia, o que não
conseguimos em nenhum momento da nossa história”.
“Alguns sintomas do
reajuste geopolítico foram identificados:
- Sucessão de golpes na
América Latina Paraguai, Honduras e Brasil. Golpes com características diferentes
dos golpes da década de 1970, que foram golpes com características militares.
Efeitos do golpe parlamentares quase piores que o de 1964. Golpe de 64 foi um
golpe de perseguições, torturas e mortes mas não levou o Brasil a uma
descaracterização como pais, que é o que nos ameaça hoje se se concretizem
todos os projetos em curso: privatização, desrespeito a soberania nacional, nós
seremos transformados em um pais de fornecimento de matérias primas e de
commodities, sem autonomia e sem soberania. Entrega da Petrobras, Eletrobrás,
desmonte dos avanços da navegação, avanço na ciência e tecnologia. Não existe
avanço nacional sem ciência a tecnologia (que estão sendo destruída), permissão
de compras de terras por estrangeiros. Destruição da educação, desrespeito ao
PNE, e o corte de financiamento que vai criar uma desescolarização. Medidas que
subalternizam o nosso pais. Medida de alto concentração do poder econômico e
pauperização da população.
- Salta a vista o
empobrecimento da população e a concentração de renda. Crise do capital chegou
ao Brasil com atraso (aguda em 2008) mas chegou e foi enormemente agravada pela
crise politica que não permitiu que as medidas necessárias fossem tomadas. E as
medidas que estão sendo tomadas, são medidas na linha da salvação do capital e
não do resgate da população pobre. Boaventura – Portugal é hoje o único pais da
Europa que se desenvolve. Portugal recusou a proposta neoliberal que está
avançando enormemente no mundo.
No Brasil nós vivemos
não só um ultraliberalismo, mas também um ultraconservadorismo. Avanço não só
no governo, mas na sociedade. Isso é possível porque se gerou uma situação de
insegurança muito grande na sociedade, aumento enorme da violência e uma busca
de solução só com repressão e controle social. Esse quadro pré-fascista ameaça
de tal forma a sociedade que a tendência é radicalizar no conservadorismo e
radicalizar no sentimento de que vale tudo.
As elites aderem ao
ultraliberalismo e conservadorismo como forma de se preservarem como elites. A
classe média insegura, querendo ser elite, adere também a essas perspectivas e
a população pobre não tem instrumentos nem recursos para lutar.
Situação é de uma
gravidade enorme!
Perplexidade da classe
média e da população é tal que acaba aderindo a projetos ultraliberais e
conservadores”.
“Outra questão que
explica essa crise econômica que o Brasil vive é a baixa do preço do petróleo,
que foi feita artificialmente, dentro dessa reorganização geopolítica
internacional em que os EUA guardam suas reservas de petróleo e usam o petróleo
de outros países para o seu consumo. Queda do petróleo provocou queda de
recursos do Brasil e na Venezuela, por outro lado se busca os EUA buscam a desestabilização
dos governos progressistas, eleitos depois das ditaduras de 60. Desestabilizar
esses governos e manter a América Latina geopoliticamente dependente é
fundamental para os EUA, que disputa com a China a geopolítica mundial, em
função de que a China avançou enormemente economicamente no mundo e tem uma
influencia enorme na AL e nos EUA, que a penetração econômica é importante.
Esse quadro é meio aterrorizador e a gente se pergunta até onde vai e
onde vamos chegar com isso. Ninguém sabe! Essa resposta não existe! Isso pode
reverter ou se consolidar pelos próximos 30 anos”.
Papel dos movimentos
sociais
“O
que me preocupa mais do que as propostas absurdas que o governo está fazendo,
esse governo corrupto e ilegítimo, o que me preocupa mais do que isso, é a
perplexidade e a desarticulação da população, a fragilidade da resistência.
Isso é muito mais preocupante!”
“Nesse quadro, o movimento social e suas resistências passam a ser uma
prioridade”. A autora evidencia nesse sentido, o papel do MIEIB como um
movimento importante no país dada sua capilaridade, clareza nas propostas e
articulação nacional e coletiva.
Para saber mais sobre a
fala da Professora Carmen Craidy e as demais falas do encontro do MIEIB, segue
o link:
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