Há duas semanas fiz um vídeo no canal do Pedagogia com a Infância no youtube sobre alguns fatores que interferem nas políticas públicas para a educação infantil. Segue nesse post a descrição da minha fala para quem tiver interesse.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=sSfViqnZprI&t=15s
Quando tratamos de políticas públicas não
estamos falando de decisões de gabinete feita por aqueles que elegemos, mas de
concepções, tensões, relações de poder que afetam diretamente o cotidiano das
instituições educativas.
Sim, o cotidiano nas instituições são
permanentemente afetados pelas leis e políticas públicas, como por exemplo, o
número de crianças por professores, a metragem obrigatória de espaço externo
que permite as crianças brincarem ao ar livre, a política curricular, as
possibilidades de formação dos professores...
Os legisladores e formuladores de políticas
públicas possuem concepções diferenciadas de criança, educação e educação
infantil e essas concepções são um forte elemento para a definição dessas
políticas, especialmente quando não há pressão social. Acompanhei a tramitação
de uma diversidade de projetos de lei na Câmara de vereadores de São Paulo e
pude observar que em muitos casos vereadores decidiam seus posicionamentos por
experiências pessoais de seus familiares nas instituições de educação da
infância, desconsiderando tanto os avanços da área quanto o fato de que
legislações e políticas públicas têm impactos em larga escala e não podem ser
medidas apenas pelo próprio umbigo.
A formulação da legislação e das políticas
públicas também sofre forte impacto das tensões e relações de poder que são
estabelecidas nos poderes executivo, legislativo e judiciário. As relações
partidárias, por exemplo, são um forte componente para a adesão ou não a uma
política proposta. Dependendo do partido ou legislador que propõe a lei, ela pode
ter maior ou menor adesão, não pela lei em si, mas por conta da legenda do
partido e das relações de ganhos e perdas que estão em jogo ali.
Imaginem que a proposição de uma lei como o
Bolsa Creche esteja em tramitação na Câmara dos Vereadores. Essa lei propõe que
no lugar da garantia do atendimento em instituições especializadas, o governo
ofereceria uma quantia em dinheiro para as famílias se responsabilizarem por
seus filhos. Para além do debate da lei em si, se ela vai ou não chegar a
criança, se essa é a melhor opção para as crianças, o debate pode se centrar
nos ganhos da adesão partidária.
Ou seja, os partidos que aderirem podem
conseguir a adesão dos outros partidos para a aprovação das suas próprias
propostas. Infelizmente, muitas vezes são esses jogos de poder que definem leis
e políticas, sem que o mais importante que é o interesse das crianças esteja
posto em discussão. Por isso, a importância da pressão da sociedade na busca de
garantir que o debate esteja no lugar certo.
Outra questão a ser considerada é quem são
os interlocutores privilegiados na formulação de políticas. Dependendo que quem
é ouvido, de quem é considerado as políticas podem enveredar uma concepção de
educação e educação infantil ou por outra. Tradicionalmente no Brasil, o
empresariado educacional (como o Movimento Todos pela Educação, por
exemplo) e as organizações multilaterais
como o Banco Mundial, tem sido um forte interlocutor de diversos governos, e
especialmente da mídia de massas.
No Brasil, desde a redemocratização do país
na década de 1980, projetos antagonistas de sociedade têm convivido. De um
lado, projetos que desresponsabilizam o estado no atendimento a criança e que
propõem atendimentos incompletos concorrem com a defesa de um projeto
democrático de participação da sociedade nas decisões da educação e que cobram
a responsabilidade do Estado no atendimento à infância em conjunto com as
famílias.
Ou seja, o que se tem observado é que junto
com a defesa do acesso a creches e pré-escolas com garantia de profissionais
qualificados, alimentação saudável, experiências nas mais diversas linguagens
para que crianças possam crescer e se desenvolver plenamente, espaços em que
familiares e profissionais possam dialogar e ouvir as crianças sobre como
ofertar melhores experiências educacionais, convivem propostas de atendimento à
infância em casas particulares de terceiros sem qualificação necessária, que é
a proposta da mãe crecheira ou o próprio Bolsa Creche que citado anteriormente.
Forte abraço,
Janaina
-->
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá! Comente aqui sua opinião!