sexta-feira, 8 de abril de 2011

A organização do espaço na educação infantil


 O modo como o espaço é organizado na instituição da infância é muito revelador da pedagogia que é oferecida as crianças. O espaço é sempre retrato da relação pedagógica.
Como afirma Ana Lúcia Goulart:
“Um espaço e o modo como é organizado resulta sempre das idéias, das opções, dos saberes das pessoas que nele habitam. Portanto, o espaço de um serviço voltado para as crianças traduz a cultura da infância, a imagem da crianças, dos adultos que a organizaram; é uma poderosa mensagem do projeto educativo concebido para aquele grupo de crianças”
 Um espaço cercado por mesas e cadeiras enfileiradas revela que o movimento das crianças não é considerado e que as propostas estão na mão do adulto que é o único que precisa ser visto e ouvido.
A própria decoração do ambiente é reveladora. Muitas vezes, o adulto no desejo de deixar o espaço bonito, o decora com cartazes e enfeites que não tem significado para aquele grupo de crianças e que é um referencial apenas para ele. Muitas revistas “pedagógicas” em especial aquelas destinadas a educação infantil infelizmente apresentam alguns desses modelos.
Para organizar um espaço é preciso sempre refletir sobre como pensamos a criança e a sua educação. Se partimos do referencial de criança positiva, criativa e criadora que é capaz de se expressar de diferentes maneiras e que buscamos seu desenvolvimento integral, alguns princípios precisam ser observados nessa organização.
Em primeiro lugar, o  espaço deve ser fruto da relação estabelecida com as crianças. Sua decoração, os cartazes expostos devem refletir as indagações, descobertas e percursos daqueles que o utilizam. Muitas vezes vemos paredes nuas que, como aponta Madalena Freire, revelam o “estancamento e a diminuição da paixão de conhecer”, como se o que se está fazendo, descobrindo e vivendo não merecesse ser registrado e ter visibilidade.
Mas essa visibilidade das produções coletivas e individuais das crianças precisa ter sensibilidade estética, ou seja, precisam ser arrumados de uma maneira que sejam valorizadas. Amontoar ou simplesmente pregar os trabalhos e cartazes na sala também revela as crianças que aquilo não tem importância. Além disso, precisamos propiciar que as crianças adquiram sensibilidade para a organização de forma bonita e atraente.
Sentir-se pertencente ao espaço é outro princípio importante: um espaço em que há desenhos genéricos e organizado apenas pelo adulto ou paredes vazias não possibilita que as crianças o sintam como delas. Já quando elas participam da decoração e suas produções e a de seus colegas são valorizadas belamente esse sentimento fica muito marcante. Isso é nítido quando seus pais chegam para buscá-las e elas querem logo mostrar suas fotos, seus desenhos e pinturas com bastante entusiasmo.
Além da decoração, a organização do mobiliário  e dos materiais é outro fator que precisa ser refletido.
Citando novamente Ana Lucia Goulart, o espaço precisa tornar-se ambiente, ou seja, ambientar crianças e adultos que lá convivem. Portanto é preciso considerar a  dimensão física (o modo como é organizado materialmente) articulada sempre com as interações que se pretende que sejam estabelecidas ali. Essas dimensões são muito imbricadas.
 A organização material e de mobiliário sempre é provocadora de interações. Por exemplo: um berçário lotado de berços revelam propostas pobres de interação, já que as crianças ficarão muito tempo confinadas individualmente. Por outro lado espaços muito abertos, sem nenhum material disponível também não provoca qualidade de interações e faz com que os pequenos necessitem intensamente da mediação do adulto. Já espaços com cantos definidos e rico em materiais provoca diferentes interações entre os pequenos, que passam a requisitar menos o adulto e brincarem de forma mais autônoma.
Por fim, o espaço precisa ser organizado de modo a contemplar as diferentes dimensões humanas: o lúdico, artístico, afetivo, cognitivo. Se as crianças se expressam nas múltiplas linguagens, como  as temos contemplado no espaço que organizamos? Há lugar para livros, brinquedos e material de arte? Essas materiais estão disponíveis as crianças ou ficam na mão apenas do adulto? Essas são apenas algumas perguntas que podemos nos fazer.
Abraço!

17 comentários:

  1. Quem é o professor, então, nessa concepção de educação infantil? Penso que ele fica secundarizado e isso reforça a falta de valorização que a sociedade lhe atribui.

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    1. Essa sua visão é a tradicional de ensino (professor ensina, aluno aprende); autores construtivistas defendem o contrário, como Vigotsky, Piaget, etc., onde o ensino e aprendizagem é permanente, tanto em quem ensina, como em quem aprende. A valorização de um ensinante não se dá na exclusão da valoração do aprendente, antes o contrário: é na construção de si mesmo que o outro se valoriza. Uma revisão do aspecto cultural do aprendizado, bem como na construção cognitiva, irá auxiliá-la na compreensão deste importante aspecto da permanente relação ensino/aprendizagem.

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  2. Olá, Jana...
    Sua contribuição é especial. Vc sabe que estou sempre seguindo suas sugestões. Muito obrigada!
    Bjs Jô

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  3. O professor nunca é secundário, ele é apenas mais um membro do processo. O professor deve abdicar de seu papel de detentor único do saber se quiser produzir uma aprendizagem efetivamente significativa para o aluno.

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  4. Oi Professora, tudo bom?

    Suas contribuições me ajudam muito e a questão do espaço é algo que me incomoda muito, pois na escola na qual trabalho julgo ser tudo pequeno, sinto falta de mais espaço, então imagina as crianças.

    Grande beijo

    Lu

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  5. Oi, Jana!
    gostei muito dos seus comentários. Pensar q muitas vezes a gente acha q está valorizando o trabalho do aluno, mas não o consultamos para saber de sua opinião.
    Beijo,
    Laura Beatriz

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  6. Olá! Adorei o seu blog. Eu estava à procura de um blog assim, onde houvesse debate sobre questões importantes. A maioria dos blogs que encontro é mais um tipo de diário ou compartilhamento de idéias. Eles são bons, mas eu sentia falta de um blog assim como este aqui. Você conhece outros no estilo para me indicar?
    Também sou professora. Minha área é didática, prática do ensino. Criei recentemente o meu blog "Opiniões de uma educadora". Te convido a visitá-lo. Te sigo. Voltarei sempre.


    Debora Mota

    Blog sobre Educação:
    http://opinioesdeumaeducadora.blogspot.com/

    Blos de Poemas: http://opinioesdeumaeducadora.blogspot.com/

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  7. Ola, tudo bem?

    estou cursando pedagogia 6º periodo e vou direto ao assunto.
    Tenho que fazer um portfolio sobre espaços imaginado para crianças de educaçao infantil no ambiente escolar povoado de objetos que lhe proporcione a imaginação, criação, interação, emeções...
    Cada um desses espaços deverá corresponder a uma disciplina, sa saber: artes, educação fisica e português...
    pode me ajudar, não sei como faze-lo na pratica??

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  8. Oi! Infelizmente não posso ajudá-la(o), nessa organização de espaços por áreas, pois ela contraria as discussões recentes da Educação Infantil, que entende que as linguagens não são separadas e estanques e, portanto, não devem ser organizadas separadamente. O texto que citei da Ana Lucia Goulart pode lhe ajudar a pensar sobre o tema. FARIA, Ana Lúcia Goulart. O espaço físico como um dos elementos fundamentais para uma pedagogia da educação infantil. In: FARIA, A. L.G.; PALHARES, M. S.(Orgs.). Educação pós-LDB: Rumos e desafios. Campinas: autores associados – FE/Unicamp, 1999. (Coleção polêmica do nosso tempo). Se quiser outros sobre o assunto me escreva um email. jmaudonnet@yahoo.com.br Abraço!

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  9. Olá Janaina, meu nome é Diego (Estudante do Curso de Pedagogia), minha questão de estudo é a educação infantil, é inspirador e motivador estudar a infância, população ainda tão injuriada nos tempos atuais, e gostaria de perguntar se você conhece algum evento na área para o proximo semestre de 2013. Pois quero apresentar os resultados da pesquisa que realizei em Benjamin Constant,AM.

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  10. Oi Diego! Que bom saber que você tem a infância como foco de suas preocupações. O que eu souber de eventos na área, vou postando no blog, ok? Abraço!

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  11. Olá Janaina, parabéns pelo blog, gostei muito!
    Estou pensando em cursar pedagogia e lendo sobre o assunto fico cada vez mais fascinada.
    beijos, Bruna

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  12. é verdade a pedagogia estar precisando de um grande estímulo

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  13. Parabéns pela postagem e a propriedade com que trata esse tema tão polêmico. Infelizmente. Mas, aqui coloco uma situação constatada por mim. Trata-se do alfabeto na parede. Percebi e, inclusive fotografei. Quando o mesmo estava posto acima da lousa, as crianças só olhavam quando eu fazia intervenções. Mas, ao colocá-lo na mesma altura que elas, nossa foi um ganho maravilhoso!
    Outro ponto relevante foram as advinhas, músicas e poesias que trabalhei no Projeto Senta que Lá Vem à História, também registrado em imagem. É perceptível a interação constante que fazem com as produções de forma lúdica e espontânea. Coloquei os exemplos, para que os colegas possam atentar para essas peculiaridades.
    Nos é que temos de respeitar a criança, o modo como aprende e, refletir a quantas anda o nosso fazer pedagógico. E, se realmente esta coerente com a faixa etária a qual trabalhamos.
    Parabéns pelos indicativos bibliográficos que coloca em suas respostas.

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  14. Adorei esse texto só discordo quando é dito que pregar os trabalhos e cartazes na sala de aula revela as crianças que aquilo não tem importância, já vejo ao contrário eles ficam felizes e fazem questão de identificar sua produção aos seus colegas e quando recebem a visita dos pais.

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  15. olá
    Em que livro dela encontro essa citação sobre o espaço educativo?

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