domingo, 6 de novembro de 2011

URGENTE: Avaliação em larga escala na Educação Infantil!


Olá pessoal!
Hoje lhes escrevo com uma grande preocupação referente à uma proposta de avaliação em larga escala do desenvolvimento e da  aprendizagem em crianças na educação infantil. Essa proposta tem sido discutida no Ministério de Planejamento Estratégico do governo federal e contraria todas os avanços que temos tido nos últimos anos na área.
No dia 04/11, o Fórum Paulista de Educação Infantil organizou uma mesa de debate para discutir o assunto, que contou com a presença do Prof. Luiz Carlos Freitas, da UNICAMP e da Prof. Letícia Nascimento da USP.
O Prof. Luis Carlos Freitas contextualizou essa proposta do ponto de visa social e econômico. Segundo o professor, o cenário brasileiro se alterou muito nos últimos 5 anos, uma vez que o Brasil foi escolhido por organismos internacionais como plataforma de investimento – juntamente com a Rússia, a Índia e a China. Isso significa que há um investimento internacional muito grande no país. Esse investimento, seguindo as lógicas do capital, precisa ser valorizado. Por isso, o investimento em infraestrutura (marcadas pelas obras do PAC) e em aumento de produtividade (o que tem ligação direta com a educação).
Nesse sentido, está havendo uma grande mudança de enfoque nas políticas públicas de educação e a educação infantil, tem sido a “bola da vez”.
Empresários querem disputar esse cenário educacional e vêm fazendo pressão nas secretarias e no Ministério da Educação. A indústria de consultorias em educação e de apostilas vêm nesse sentido. Assim como a indústria de testes.
Pela lógica do empresariado, o grande problema de educação pública é que ela é pública, e não privada. E que o modelo que deve ser adotado na Educação é o da organização empresarial. Crê-se que esse tipo de organização é um avanço, portanto é preciso seguir esses princípios: bônus para quem vai bem, demissão para quem vai mal.
Essas idéias vêm dos Estados Unidos, que vem implementando isso há mais de 15 anos. Na educação infantil, os reformadores empresariais, como denominou Luiz Carlos Freitas, vêm fazendo testes de larga escala nas crianças de 4 e 5 anos. Esses testes, voltados as questões da língua materna e matemática tem provocado uma formação extremamente escolarizadora da infância e provocado um estreitamento curricular muito grande. A arte e o lúdico, linguagens primordiais da infância estão sendo renegadas. Essas  são as conclusões de um recente relatório elaborado por pesquisadores americanos, cujo titulo é: “Crise nos Jardins da Infância: Porque as crianças precisam brincar na escola”., Segue o link para o relatório completo: http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=children%20need%20to%20play%20%2Breport&source=web&cd=6&ved=0CFIQFjAF&url=http%3A%2F%2Fwww.communityplaythings.com%2Fresources%2Farticles%2Fvalueofplay%2Fkindergarten_8-page_summary.pdf&ei=xoy2TuijDer10gHExrHRBw&usg=AFQjCNE413X_LvXQqIbwnPF7XfmtDda3HA&sig2=kjTvCLp3HbMzzBm6RrFZEA&cad=rja

Luiz Carlos Freitas nos alertou em sua palestra, que muitas escolas americanas estão sob controle de iniciativas privadas e que essas escolas não tem tido melhores resultados que as escolas públicas no PISA (avaliação de aprendizagem de escola internacional). Aliás, a posição americana no PISA não tem se alterado nos últimos 10 anos, embora as crianças tenham sido testadas sistematicamente. Pelo contrário, a pressão sofrida por essas crianças tem aumentado os casos de depressão infantil e a medicalização delas. O filme “Caminho para lugar nenhum” (em inglês Race to nowhere) aponta o efeito que essas testagens tem provocado nas crianças. (Ao final da postagem,  deixo o link para o trailer do vídeo).
Ou seja, pontuou Freitas, nada indica que a adoção das estratégias americanas tem apontado que são boas políticas educacionais. Mas essa é uma luta com forcas poderosas que mobilizam bilhões de dólares. E são essas industrias que tem defendido essas mudanças. Elas estavam presentes nos últimos seminários do Ministério de Estratégia e Planejamento do governo federal, na tentativa de vender esses testes de larga escala. Mas, para poder ser vendidos, esses testes precisam ser validados com uma grande amostragem. O que tem sido feito no Rio de Janeiro com uma amostra de 40 mil crianças. (A saber, o teste segue um viés comportamentalista marcante, como questões do tipo: a criança de uma ano é capaz de abrir uma porta? Segue determinados comandos, como pegar a bola quando solicitado?, e por aí vai...)
Luiz Carlos Freitas nos indagou na palestra, o porquê de não adotarmos outras lógicas de políticas educativas de países que tem sido bem sucedidos na formação das crianças pequenas. Citou a Itália, a Finlândia e, no caso latino americano,  o Uruguai. Países, que tem como principio a formação e a  confiança no corpo docente e a avaliação das instituições (e não das crianças) em seu contexto.
Os argumentos do Professor Luiz Carlos Freitas nos mostram que é urgente que nos mobilizemos contra essas políticas que desconsideram a criança e seus direitos, criando expectativas e indicadores de desenvolvimento que não as consideram enquanto sujeitos de saberes. As testagens das crianças provocam expectativas quanto à seu desenvolvimento. Essas expectativas, por sua vez, criam padrões de comportamentos que geram um modelo de currículo para infância. E as crianças ou instituições  que não se encaixam precisam de intervenções de especialistas, o que aumenta a demanda para uma indústria de consultoria e apostilamentos.
Em sua fala, a professora Maria Letícia do Nascimento retomou sua entrevista realizada para o Observatório da Educação. A entrevista nos ajuda a entender melhor esse processo e os perigos trazidos por ele para nossas crianças e instituições.Link para a entrevista: http://primeirainfancia.org.br/?p=6555
O Fórum Paulista de Educação Infantil tem se mobilizado contra isso. Para conhecer como podemos ajudá-los nessa luta, segue o blog:http://fpeicrianca.blogspot.com/
Em breve, haverá um abaixo assinado a respeito assunto e conto com a assinatura de vocês. Além disso, precisamos debater o assunto em nossos espaços educativos. Quem tiver mais sugestões de mobilização social esse é um espaço para isso.

Abraço MUITO preocupado!



10 comentários:

  1. Cara Janaína,
    Penso que esse movimento internacional é só a explicitação de um gradul processo de escolarização da primeira infância que vem tomando corpo em algumas propostas "pragmáticas" que uma hora ou outra ficam em alta nas discussões sobre a educação de crianças pequenas. Antes eu não conseguia decifrar bem esse meu estranhamento frente a essa racionalização das propostas pedagógicas voltadas para essa etapa da infância. Nas extremidades dessa discussão via por um lado posturas carregadas de intenções assistencialistas e limitadoras e do outro, em nome da "sistematização" das práticas, um movimento de escolarização da criança pequena. A sua preocupação é nossa e de um contingente de profissionais que diariamente, ao lado da criança, inventam e reinventam a profissão de educador da infância COM a criança.Essa reflexão é também de suma importância para as discussões sobre o currículo nos Centros de Educação Infantil, pois às vezes, buscando legitimidade para os projetos a serem desenvolvidos com a criança pequena, os educadores sentem a necessidade de trazer para o sua prática o discurso e os métodos da escola formal (mesmo que lá também não tenham obtido os melhores resultados!) Certamente levarei adiante essa reflexão com os educadores com quem convivo, pois, otimista que sou, acredito que a trajetória percorrida nos CEIs na cidade de São Paulo, oferece muitas pistas sobre a construção de propostas significativas que consideram e respeitam a infância em sua singularidade. Forte abraço. Rose

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  2. Infelizmente a idústria "educacional" vem dando as cartas em nosso país. Realmente precisamos nos mobilizar a fim de que nossos pequenos não se tornem cobaias de laboratório ou seres privados de autonomia. Resta lembrar os problemas que nos foram impostos na rede municipal com a Qualidade Total: nossos alunos deveriam dar sempre as mesmas respostas àquilo que lhes era pedido.Crianças não são máquinas, são pessoas que devem ser respeitadas em seu desenvolvimento e escolhas. Laura B. Aquino

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  3. Desculpe, mas não vejo motivos para tanta preocupação. O Brasil está muuuuuito longe desse retrato que você está pintando. Países que possuem esse tipo de dinâmica na educação, são países que possuem uma cultura de meritocracia muito rígida, que exigem das famílias uma educação exemplar, que o aluno demonstra comportamento adequado em sala de aula. É preciso de uma mudança geral nos padrões de conduta da sociedade. No Brasil vemos o retrato da impunidade, do "aluno faz o que quer", da família desestruturada e desinteressada pela educação dos seus filhos, do estado assistencialista ao extremo que tira toda a responsabilidade da família. Aqui, no máximo, o que pode acontecer é o professor ter que preencher um monte de papelada burocrática e acabou... Não acho que vá além disso!

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  4. Janaína querida
    Tua urgência procede, é pertinente. Um câncer cresce e não podemos ele se naturalizar.
    Penso que a escolarização tenta se opor há um processo de formação da infância.
    Penso que quem defende a EI precisa pensar como transformar a EF primeiros anos numa EI. Enviei o teu texto do fórum, que infelizmente não pude ir, para todos da minha EMEF, pois faremos prova São Paulo depois do 21. Minhas crianças de 7~8 anos farão. O que faço é tirar o peso do teste e as crianças estão suportanto bem estes testes.

    Abraço Clóvis

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  5. Prova mostra que mais de 40% dos alunos alfabetizados não sabem ler e escrever

    http://oglobo.globo.com/educacao/mat/2011/11/06/prova-mostra-que-mais-de-40-dos-alunos-alfabetizados-nao-sabem-ler-escrever-925746619.asp

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  6. Janaína, amanhã terá início o Fórum de Educação Infantil em Salvador, quem sabe não é uma grande chance e o momento ideal para reforçar esse assunto, estarei lá na quinta feira pois terça e quarta é só para os comandos do Mieib.

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  7. Professora Janaína, sou Professora das series finais da Educação Básica, e a minha preocupação é com a Educação como um todo e o que foi postado aqui é realmente preocupante. O modelo a ser adotado com as crianças, no meu entendimento, já é o que esta em curso nas escolas e,o resultado é o que vemos hoje: violência, crimes cometidos por crianças e adolescentes.Ao copiar modelos "enlatados" dos norte americanos, trazemos junto uma gama de problemas que eles tem, principalmente com relação a formação humana. Os seres humanos que estão sendo "forjados"por esse modelo, é o que serve ao mercado e não à sociedade e pode levar-nos ao aprofundamento da crise de valores sociais que vemos hoje. Temos em Paulo Freire um exemplo de educação a seguir e no entanto ele fica guardado na gaveta pois educa para a autonomia e liberdade, e seres autônomos e livres não servem para a iniciativa privada.

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  8. Muito bom o relato , hoje postamos o Manisfesto sobre avaliação, de uma olhda no blog, logo iremos colocar um relato sobre o Encontro nacional do MIEIB em Salvador.
    Grandes bjos e inté mais

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  9. Janaina recebo o teu abraço com grande e real preocupação. Espero anciosa pelo abaixo assinado para poder divulgar através do meu blog, e mail s e no CEI onde trabalho. Bjis

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  10. Oi Maria Helena!
    Segue o link para o abaixo assinado: http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=MIEIB11

    Abraço!

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