sábado, 30 de junho de 2012

Congresso Internacional de Educação Infantil: o direito a educação que queremos

Olá a todas e todos!
Faz algum tempo que não escrevo e me desculpo  por isso. Tentarei ser mais diligente, mas como sabem, final de semestre é complicado para todos nós educadores.
Escrevo da cidade de Barcelona, Espanha para contar as novidades do Congresso Internacional de Educcação Infantil, promovido pela Associacio de Mestres Rosa Sensat.
Espero poder compartilhar com vocês um pouco das discussões que tenho ouvido por aqui.
Serão dois dias de Congresso - dia 30/06 e dia 01/07. Como são muitas discussões e  interessantíssimas, vou trazê-las aos poucos. Espero com isso ajudá-las e ajudá-los a terem mais força na defesa pela educação da infância.
Foi justamente conclamando esse desejo de juntar esforços e de transmitir força a todos nessa batalha a favor das criancas pequenas, que, Irene Balaguer, a presidente da Associació Rosa Sensat  abriu o Congresso. Ela nos chamou a atenção para a união entre utopia e realidade, que em geral se pensa que são diferentes, mas que devem coexistir. De fato, as experiências mostradas ao longo do primeiro dia do Congresso mostraram que essa união é possível.

A primeira conferência do dia, foi dada por Anna Tardos, filha de Emi Pikler, que fundou ao final da 2a. guerra mundial o orfanato de Loczy, que abrigava orfãos em Budapeste, na Hungria. Tendo como princípios,  o desenvolvimento da autonomia das criancas, as relações afetivas com qualidade e a liberdade de movimentos, essa instituição tem sido uma referência para todo o mundo.
No inicio da conferência, Anna nos mostrou uma foto em que uma criança dormia tranquilamente, e nos chamou a atenção para o fato de que esta somente o fazia porque estava em harmonia consigo mesma e com seu entorno, porque estava cercada de um ambiente de liberdade.  Refletir sobre o significado de liberdade em relação aos bebês foi a proposta de sua fala, que ela brilhanteente conduziu.
Segundo Anna, podemos falar em liberdade quando tratamos de crianças pequenas a partir de três pontos:
- Liberdade física, de movimentos: Crianca livre pode fazer escolhas que a tiram da imobilidade. Temos pressa para que as criancas andem,  mas precisamos dar tempo à elas para que se desenvolvam. Isso porque não se trata apenas de que possam andar, mas há um valor muito grande nesse aprendizado que envolve tentativas. Trata-se da crianca aprender por si e descobrir que pode tentar, é capaz de fazê-lo, ainda que algumas  vezes não consiga de imediato. Essa descoberta é um valor fundamental para a crianca, que precisa ser apoiada por seus educadores. Ao olhar atentamente às criancas, percebemos o prazer que elas tem ao fazer as coisas por si, assim como vemos também frustrações e novas tentativas. Nao há porque ter pressa nesse processo, querer um resultado prático rapidamente. O resultado,  apontou Anna, é a experiência de dialogar com si mesmo, com os objetos e com o mundo que está no entorno do bebê. O adulto se acha onipresente, pensa que tudo tem que ensinar às criancas, mas quando damos oportunidades para que se relacionem com os objetos, elas fazem coisas que nunca haviamos pensado.

Liberdade no diálogo com os adultos: Outro enfoque relacionado â liberdade, além da experimentação, do exercicio livre, do diálogo consigo mesmo, é o diálogo com os adultos. Desde que nasce, o bebê tem necessidade de estar em diálogo com as outras pessoas. Eles são investigadores natos, se perguntam: "como vou conseguir fazer isso que quero". Mas a criança que não tem intercomunicação com o adulto não tem alegria,  vontade de explorar as coisas. 
Ao nascer, o bebê procura o olhar da mãe. Os adultos precisam responder ao olhar dos bebês, porque eles precisam dessa resposta do adulto. Mas, muitas vezes, nas rotinas das instituiçoes. não respondemos esse olhar. Temos pressa!!! 
A troca de fraldas, por exemplo, é uma coreografia, que necessita harmonia entre adultos e bebês. As criancas podem estar ativas nesse processo, mas para isso precisamos estabelecer diálogo com elas. Nas instituiçoes, não damos tempo às criancas, muitas vezes, é como uma luta. Criança precisa ser parceira, não só para cooperar com o adulto, mas para se relacionar com ele. O educador precisa estabelecer relação com as criancas, tratá-las como ativos, afirmou Anna.


- Liberdade com limites: O terceiro aspecto da liberdade, enfatizado por Anna Tardos, foi a liberdade com respeito aos limites, às regras. Nao há liberdade sem limites. O próprio espaço fïsico pode ter uma limitação, com algumas barreiras,  que para a crianca pode significar segurança (No Brasil, chamamos essas barreiras de cantos).  
Mas também há o limite psiquico. Sempre há expectativas e costumes na sociedade, ou seja, há coisas que são autorizadas às criancas, outras que não são. Crianças de 1 a 3 anos se defrontam com muitas proibições, mas essa proibição não precisa vir cercada de medo. Se a crianca tem medo de ser castigada, não há liberdade psíquica. A educação não pode se basear no medo. Por isso, é preciso anunciar o que não pode, mas sem humilhar a criança. Fazer com que a criança se sinta malvada, que tenha sentimento de culpa não é  a melhor forma de educá-la. É uma idade cheia de impulsos, nos quais a crianca tem que dominar, mas isso não é um aprendizado fácil. O educador tem que ser firme, mas flexível. Ser categórico, mas ter clareza do que realmente merece firmeza e o que se trata de algo menor.

Enfirm, apoiar-se na perspectiva de Lóczy, envolve pensar na liberdade em relação a si mesmo, a liberdade nos movimentos, no diálogo com os objetos e com os sujeitos, liberdade para ser ativo nas relações e liberdade para ir demarcando seus limites. Como apontou Anna Tardos, liberdade só é possível em relações de segurança. Para isso, precisamos ter um amor verdadeiro para que as criancas tenham alegria de viver. Ser um educador assim exige atitude!


Se quiserem saber mais sobre o enfoque de Emi Pikler, indico o livro: "Educar os Três Primeiros Anos: a experiência de Loczy", organizado por Judith Falk. Também o artigo das Professoras Anita Viudes e Maria Helena Pelizon, apresentam os princípios dessa educação. Disponivel no link:  http://www.sumare.edu.br/Arquivos/1/raes/05/raesed05_artigo02.pdf 
 
Para quem quiser saber mais sobre o Congresso e sobre a Associació de Mestres Rosa Sensat, o link para a página web é: http://www2.rosasensat.org/ e para o facebook; http://www.facebook.com/RosaSensat

Grandes e animados abraços!





3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Jana adorei suas reflexões sobre o congresso, mais ainda o começo que vc descreve a força e o engajamento em prol de uma infância qualificada e amorosa, que é o que merecem todas as crianças do mundo!

    O espaço, a liberdade, o limite, o movimento de um bebê descobrindo as possibilidades de seu corpo, de si e do outro.

    Quero muito ir nesse congresso no ano que vem, muito a aprofundar, muito a divulgar sobre uma educação infantil de qualidade!

    Parabéns Jana querida, pelo seu engajamento que também é meu, é de profissionais assim que a educação precisa, gente com brilho nos olhos e coração forte, que vibra com a generosidade e o bem comum!

    bjo e vamos marcar a sopa!

    Jo

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  3. Olá Janaína!
    Grata por compartilhar as suas vivências no Congresso! No CEU CEI Vila Curuçá já estamos há algum tempo ensaiando os primeiros passos no estudo da experiência de Lóczy. Seu texto certamente vai animar a equipe a retomar essa reflexão. Abraços!

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