quarta-feira, 4 de julho de 2012

Conferência: Participação como forma de viver. Ofelia Revesco


Olá a todas e todos!

A próxima conferência que divulgarei para vocês foi a proferida pela professora Ofélia Revesco, do Uruguay.
Segundo Ofélia, a educação não tem que ser apenas acadêmica. Temos que recuperar as palavras sonho, afeto, alegria. As crianças sonham e porque sonham é que fazem muitas coisas. Temos que recuperar esses sonhos. Ela apontou seu desejo de que saíssemos do Congresso  mais alegres e fortes para mudar a realidade. Que tenhamos sonho e alegria para refletirmos juntos, disse a professora.
Após esse inspirador preâmbulo, Ofélia nos fez refletir sobre o significado da palavra participação. Em educação infantil sempre se fala de participação: participação das crianças, das famílias e da comunidade. Mas o que queremos dizer com participação? Participação das crianças pode querer dizer que elas tenham que fazer uma atividade qualquer como pintar uma flor pronta, ou pode querer se referir a escuta de suas falas para gerar uma atividade ou pode ainda se relacionar ao entendimento de que as crianças tenham que decorar um poema.
Em relação a família pode se referir  ao fato desta ir e prestar atenção às reuniões de pais, ouvindo o que dizem os professores, ou preparar junto `a instituição o material didático, ou ainda construir algo para a escola.
Quanto à comunidade,  essa participação pode ser entendida como a entrega de recursos, a ajuda na execução de mobiliários ou pintura da escola.
Quando falamos em participação há uma diversidade conceitual. Temos que usar cuidadosamente as palavras, porque elas criam realidade.
Dizemos a mesma a palavra, mas não nos comunicamos, porque o sentido é distinto. O  sentido etimológico da palavra é uma comunhão íntima: Comum união íntima. Quer dizer intimidade. Mas só temos intimidade quando nos queremos muito. Quer dizer também intercâmbio, câmbio entre (troca). Essa intimidade permite que se produza mudança em nós e com que  a dividimos.  O sentido etimológico é absolutamente antônimo do individualismo. Não pode haver participação se há individualismo.

Temos que recuperar os clássicos da educação: Comenius, Montagne, Rousseu, Montessori, Decroly, Froebel: O que para eles quer dizer participação? Propósitos compartilhados. Não há possibilidade de participação se não há propósitos compartilhados. Ser parte de. Compartilhar propósitos, mesmo com as diferenças culturais. O que dizem nosso avós, bisavós da educação (os clássicos)? Participação exige confiança. Não há como participar sem confiança. Confiança de que as crianças são capazes, confiança que os professores são capazes. “Me fio del outro” (acredito no outro). Avós da educação também afirmam que o que advém da participação é um produto coletivo. Não há mais nomes individuais, mas é ma produção coletiva. 
Esse paradigma pedagógico que compartilhamos exige-se que a participação deve reconhecer o outro. O sentido etimológico da palavra conhecer se refere a idéia de que só se conhece quando a relação com o conhecido é integral e para isso tem que ser um conhecimento físico, afetivo, biológico, etc.. Participar significa mais que conhecer, mas reconhecer.
Mas além de reconhecer, é preciso valorizar, maravilhar-se pelo o outro, ficar maravilhado com o que o outro é, fala e faz: me apaixonar pelo outro. O valorizo e para mim, o outro passa a ser importante, por isso trato de aprender com ele.
Vivemos em uma sociedade extremamente individualista. Perdemos a riqueza da família ampliada, das relações entre vizinhos. Para fazermos participação temos que sair do individualismo e estarmos atento a olhar e ouvir. Mas observar atentamente, sem óculos escuros, como as crianças que observam os detalhes. Temos que nos assombrar, sair da sombra (sem sombra). Precisamos assombrarmos com que escutamos e observamos.
Precisamos perder o medo da heterogeneidade. Perder o medo da resposta divergente. Participação exige uma mudança profunda e isso não é só um processo cognitivo, mas integral, que  também envolve corpo e afetividade, trata-se de mudar de paradigmas. Necessitamos de tempo para que diversidade apareça. Somos impacientes, não deixamos que as respostas aconteçam. Criar não é fácil. Cada um tem a sua forma de criar e precisa de tempo. Precisamos de maior tempo e para isso temos que ter paciência. E nossa sociedade além de individualistas, somos impacientes. Há coisas que se demoram mais e outras menos.
Precisamos reconhecer que temos medo, porque temos necessidade de controlar. Temos que perder o medo. Não é possível participar sem perder o medo. Para gerar participação exige-se uma mudança profunda em cada um de nós. Temos que reconhecer nossa falta de paciência. Reconhecer que temos preconceitos, pois sem nos dar conta discriminamos.
Somos competitivos, comparamos crianças, temos expectativas em relação à elas. Queremos que as crianças saibam fazer as coisas cedo (escrever,ler, contar,...) e isso nos faz orgulhosos. Mas temos o compromisso de respeitar, valorizar, confiar, ouvir e querer ao outro. O afeto tem sentido e importância. A palavra querer é fundamental na educação e na educação infantil ainda mais.
Paulo freire nos ajuda a pensar a participação enquanto exercício da voz (ter palavra). Estamos perdendo a voz, pois a escola no ensina a nos calar. Para ter participação temos que recuperar a voz, que como afirma Freire, é um direito dos cidadãos. Fazer isso é absolutamente necessário em uma educativa progressista.
A educação infantil é progressista de nascimento, porque nascemos de uma mudança de paradigma, que se acontecesse nos outros níveis de educação  teríamos um outro fazer educativo. Os avos de nossa educação, apontaram a existência das crianças, apontaram que a educação era para todos. Portanto, nos educadores da infância tem que ser progressistas e querer uma sociedade mais justa.
Estamos submetidos a pacotes de sistemas educativos (como os apostilados). Se tivéssemos confiança no que fazemos não teríamos medo aos pacotes, mas nos prepararíamos para eles. Professores submetidos a pacotes e estudantes que estão submetidos ao dever de estudar sem falar. Professores como zeladores, cozinheiras e vigilantes que também são educadores e que devem ter voz; pais e mães que são convidados apenas para queixas do filho ou para contribuir com dinheiro ou arrumar alguma coisa da escola. Tudo isso mostra de um lado a total proibição da participação e a falsa idéia de que estão participando.
Educação é uma tarefa participativa, pois é de todos. Os líderes tem que gerar condições para que as vozes surjam e que sejam plasmada em uma construção comum, distinta e única. Não são apenas os professores os responsáveis pela educação. Todos tem essa responsabilidade. O trabalho colaborativo nos alivia a carga e nos dá mais alegria.
Portanto, finaliza Ofélia, vamos fazer participação no sentido etimológico da palavra!




2 comentários:

  1. Acho que quando falamos em educação, estamos à anos luz de atraso com relação às outras áreas. Vamos refletir juntos. Por que o educador diz à seu aluno: não assista esse filme, porque ele tem muitos erros históricos ou, porque o educador diz à seu aluno: não leia esse livro, porque ele tem muitos erros conceituais.
    Ao educador em formação constante, à aquele educador que se formou recentemente ou ao estudante de pedagogía ou licenciatura convido todos à pensar aonde está o conceito de formação do cidadão reflevixo, que hoje a sociedade e o mercado de trabalho exigem.

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  2. Janaína

    O seu encantamento pela educação e, especialmente, pelas crianças, continua a me contagiar como na época da Famec. Estou adorando, mais uma vez, poder compartilhar seu conhecimento. O desenvolvimento da imaginação, comprovadamente, faz com que possamos aprender mais e melhor, construindo acervos de memória e construindo conceitos.
    A participão nos faz sermos pessoas atuantes e responsáveis pelo nosso conhecimento - cada participante é participante à medida de seus próprios "recepientes" de conhecer. Por isto, nós educadores, precisamos ampliar nossa imaginação e nossa participação - para que sejamos capazes de desenvolver mais e mais nossa docência.
    Um grande abraço,

    Claudia R. Simões Lacerda

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