Olá a todas e todos!
A próxima conferência que divulgarei
para vocês foi a proferida pela professora Ofélia Revesco, do Uruguay.
Segundo Ofélia, a educação não tem
que ser apenas acadêmica. Temos que recuperar as palavras sonho, afeto,
alegria. As crianças sonham e porque sonham é que fazem muitas coisas. Temos
que recuperar esses sonhos. Ela apontou seu desejo de que saíssemos do
Congresso mais alegres e fortes
para mudar a realidade. Que tenhamos sonho e alegria para refletirmos juntos,
disse a professora.
Após esse inspirador preâmbulo, Ofélia
nos fez refletir sobre o significado da palavra participação. Em educação infantil sempre se fala de participação:
participação das crianças, das famílias e da comunidade. Mas o que queremos
dizer com participação? Participação das crianças pode querer dizer que elas
tenham que fazer uma atividade qualquer como pintar uma flor pronta, ou pode querer
se referir a escuta de suas falas para gerar uma atividade ou pode ainda se
relacionar ao entendimento de que as crianças tenham que decorar um poema.
Em relação a família pode se
referir ao fato desta ir e prestar
atenção às reuniões de pais, ouvindo o que dizem os professores, ou preparar
junto `a instituição o material didático, ou ainda construir algo para a
escola.
Quanto à comunidade, essa participação pode ser entendida
como a entrega de recursos, a ajuda na execução de mobiliários ou pintura da
escola.
Quando falamos em participação há
uma diversidade conceitual. Temos que usar cuidadosamente as palavras, porque
elas criam realidade.
Dizemos a mesma a palavra, mas não
nos comunicamos, porque o sentido é distinto. O sentido etimológico da palavra é uma comunhão íntima: Comum união íntima. Quer dizer
intimidade. Mas só temos intimidade quando nos queremos muito. Quer dizer
também intercâmbio, câmbio entre (troca). Essa intimidade permite que se
produza mudança em nós e com que a
dividimos. O sentido etimológico é
absolutamente antônimo do individualismo. Não pode haver participação se há
individualismo.
Temos que recuperar os clássicos da
educação: Comenius, Montagne, Rousseu, Montessori, Decroly, Froebel: O que para
eles quer dizer participação? Propósitos
compartilhados. Não há possibilidade de participação se não há propósitos
compartilhados. Ser parte de. Compartilhar propósitos, mesmo com as diferenças
culturais. O que dizem nosso avós, bisavós da educação (os clássicos)?
Participação exige confiança. Não há como participar sem confiança. Confiança
de que as crianças são capazes, confiança que os professores são capazes. “Me
fio del outro” (acredito no outro). Avós da educação também afirmam que o que
advém da participação é um produto coletivo. Não há mais nomes individuais, mas
é ma produção coletiva.
Esse paradigma pedagógico que
compartilhamos exige-se que a participação deve reconhecer o outro. O sentido
etimológico da palavra conhecer se refere a idéia de que só se conhece quando a
relação com o conhecido é integral e para isso tem que ser um conhecimento físico,
afetivo, biológico, etc.. Participar significa mais que conhecer, mas
reconhecer.
Mas além de reconhecer, é preciso
valorizar, maravilhar-se pelo o outro, ficar maravilhado com o que o outro é,
fala e faz: me apaixonar pelo outro. O valorizo e para mim, o outro passa a ser
importante, por isso trato de aprender com ele.
Vivemos em uma sociedade
extremamente individualista. Perdemos a riqueza da família ampliada, das
relações entre vizinhos. Para fazermos participação temos que sair do individualismo
e estarmos atento a olhar e ouvir. Mas observar atentamente, sem óculos
escuros, como as crianças que observam os detalhes. Temos que nos assombrar,
sair da sombra (sem sombra). Precisamos assombrarmos com que escutamos e
observamos.
Precisamos perder o medo da
heterogeneidade. Perder o medo da resposta divergente. Participação exige uma
mudança profunda e isso não é só um processo cognitivo, mas integral, que também envolve corpo e afetividade,
trata-se de mudar de paradigmas. Necessitamos de tempo para que diversidade apareça.
Somos impacientes, não deixamos que as respostas aconteçam. Criar não é fácil.
Cada um tem a sua forma de criar e precisa de tempo. Precisamos de maior tempo
e para isso temos que ter paciência. E nossa sociedade além de individualistas,
somos impacientes. Há coisas que se demoram mais e outras menos.
Precisamos reconhecer que temos
medo, porque temos necessidade de controlar. Temos que perder o medo. Não é possível
participar sem perder o medo. Para gerar participação exige-se uma mudança
profunda em cada um de nós. Temos que reconhecer nossa falta de paciência.
Reconhecer que temos preconceitos, pois sem nos dar conta discriminamos.
Somos competitivos, comparamos
crianças, temos expectativas em relação à elas. Queremos que as crianças saibam
fazer as coisas cedo (escrever,ler, contar,...) e isso nos faz orgulhosos. Mas
temos o compromisso de respeitar, valorizar, confiar, ouvir e querer ao outro.
O afeto tem sentido e importância. A palavra querer é fundamental na educação e
na educação infantil ainda mais.
Paulo freire nos ajuda a pensar a
participação enquanto exercício da voz (ter palavra). Estamos perdendo a voz,
pois a escola no ensina a nos calar. Para ter participação temos que recuperar
a voz, que como afirma Freire, é um direito dos cidadãos. Fazer isso é
absolutamente necessário em uma educativa progressista.
A educação infantil é progressista
de nascimento, porque nascemos de uma mudança de paradigma, que se acontecesse
nos outros níveis de educação teríamos
um outro fazer educativo. Os avos de nossa educação, apontaram a existência das
crianças, apontaram que a educação era para todos. Portanto, nos educadores da infância
tem que ser progressistas e querer uma sociedade mais justa.
Estamos submetidos a pacotes de
sistemas educativos (como os apostilados). Se tivéssemos confiança no que
fazemos não teríamos medo aos pacotes, mas nos prepararíamos para eles. Professores
submetidos a pacotes e estudantes que estão submetidos ao dever de estudar sem
falar. Professores como zeladores, cozinheiras e vigilantes que também são
educadores e que devem ter voz; pais e mães que são convidados apenas para
queixas do filho ou para contribuir com dinheiro ou arrumar alguma coisa da escola.
Tudo isso mostra de um lado a total proibição da participação e a falsa idéia
de que estão participando.
Educação é uma tarefa participativa,
pois é de todos. Os líderes tem que gerar condições para que as vozes surjam e
que sejam plasmada em uma construção comum, distinta e única. Não são apenas os
professores os responsáveis pela educação. Todos tem essa responsabilidade. O
trabalho colaborativo nos alivia a carga e nos dá mais alegria.
Portanto, finaliza Ofélia, vamos
fazer participação no sentido etimológico da palavra!
Acho que quando falamos em educação, estamos à anos luz de atraso com relação às outras áreas. Vamos refletir juntos. Por que o educador diz à seu aluno: não assista esse filme, porque ele tem muitos erros históricos ou, porque o educador diz à seu aluno: não leia esse livro, porque ele tem muitos erros conceituais.
ResponderExcluirAo educador em formação constante, à aquele educador que se formou recentemente ou ao estudante de pedagogía ou licenciatura convido todos à pensar aonde está o conceito de formação do cidadão reflevixo, que hoje a sociedade e o mercado de trabalho exigem.
Janaína
ResponderExcluirO seu encantamento pela educação e, especialmente, pelas crianças, continua a me contagiar como na época da Famec. Estou adorando, mais uma vez, poder compartilhar seu conhecimento. O desenvolvimento da imaginação, comprovadamente, faz com que possamos aprender mais e melhor, construindo acervos de memória e construindo conceitos.
A participão nos faz sermos pessoas atuantes e responsáveis pelo nosso conhecimento - cada participante é participante à medida de seus próprios "recepientes" de conhecer. Por isto, nós educadores, precisamos ampliar nossa imaginação e nossa participação - para que sejamos capazes de desenvolver mais e mais nossa docência.
Um grande abraço,
Claudia R. Simões Lacerda