quinta-feira, 12 de julho de 2012

Conferência: Um mito? Uma realidade, proferida por Mara Davoli

Olá a todas e todos!

Foto do perfilHoje reproduzo a última conferência assistida por mim no Congresso Internacional de Educação infantil da Associació de Mestres Rosa Sensat. A Palestrante foi Mara Davoli, atelierista e formadora de professores em Reggio Emilia.

Mara iniciou sua fala afirmando que a idéia do titulo é discutir que a educação que queremos não é mito, mas uma realidade que se pode construir, conhecer. O tema do congresso propõe palavras complexas: direito, educação e educação que queremos. É uma declaração de luta e de intenção.

É preciso buscar o significado das palavras mito e realidade. Mito vem do grego e significa palavra, discurso, conto. Mito é uma narração, em que há uma história que se apresenta. Histórias não são solitárias, mas galhos de um família. Mara Davoli apontou que se relacionarmos mito com sistema educativo, este pode gerar e explicar algumas práticas educativas, pois não se trata de mitificar, mas muitas vezes o que ocorre é cristalizar algumas praticas que não se revê e portanto avançar.

É desafiador construir um equilíbrio entre tradição e inovação. Talvez a única maneira é ser curioso para conhecer outras teorias educativas. A educação precisa estar em movimento constante, estar em caminho.

Equilíbrio entre tradição e inovação, entre global e local exige nos perguntarmos o que significa para nós e para as crianças ser e nos sentir cidadãos. Também requer que nos ponhamos na escuta de crianças para construir com elas a educação que queremos.

Carla Rinaldi (citada por Mara Davoli) afirmou que educar às crianças e jovens significa comprometer-se junto com eles, e não só para eles, em um mundo complexo. Assim necessitamos mudar o conceito de saber e o conceito de ser cidadão. Essa autora também afirmou que escola é espaço privilegiado de negociação de diálogos complexos.

A educação que queremos se relaciona com a educação para cidadania. Só através de uma compreensão cultural será possível formular e proteger os direitos humanos em um mundo pluralista.

A educação que queremos também tem relação com as muitas maneiras de aprender das crianças. O grupo é um lugar de construção de novos conhecimentos. Não um conhecimento frio, mas quente, sensível, em que cada um aporta coisas que contribuem para o enriquecimento do grupo. Processos solidarios.

Atividades prontas, como as apresentadas em apostilas, limitam as possibilidades das crianças. As crianças trazem várias possibilidades de representação. Os desenhos das crianças nao têm apenas linhas, mas linhas que estao cheias de significados e que narram historias.

A relação da linha pontilhada com a coordenação motora está apenas na cabeça do adulto. Jerome Bruner aponta que precisamos dar as crianças o sentido de suas aprendizagens. Maior conhecimento e consciência das crianças a respeito de suas aprendizagens: o que fazem, como e porque. Aprendizagem é complexa e comporta representação e negociação dos significados.

Folhas prontas apresentam poucas possibilidades e em geral são esteriotipadas, perspectiva de normalização do pensamento. Precisamos aprender a respeitar a inteligência das crianças, suas competências. Precisamos mostrar as crianças que o que pensam, fazem e dizem tem valor. Mara Davoli exemplifica essa idéia apresentando uma ficha com um rosto em branco, no qual as crianças deveriam colar olhos e bocas tristes ou alegres, já prontas, de acordo com suas preferências. As crianças ao se depararem com tal ficha disseram que isso não seria possível, pois as pessoas não são iguais e não tem expressões iguais. Segundo elas, “os olhos refletem a alma e cada um tem a sua alma”. Enquanto podem chegar a essas conclusões, muitas instituições ainda lhes dão folhas com rostos prontos.

O direito à educação que queremos não pode prescindir de assumir responsabilidades. A experiência de Reggio Emilia foi mitificada, mas é uma historia concreta, é uma autobiografia coletiva escrita a varias maos. É uma utopia que se converteu em um projeto.

Que educação estamos falando? Uma educação dentro da pluralidade cultural. Educação vive de escuta, diálogo e participação, senão não é educação. Respeito e valorização de cada identidade. Educação é laica, aberta a comparação e cooperação.

Laicidade, pluralismo e direitos humanos são os princípios. Temos que tomar a responsabilidade nas práticas cotidianos. A experiência pública de Educação Infantil em Reggio Emilia nasce a partir de uma participação social em 1945. Criação de uma nova idéia de educação pública, em que as famílias se sentiam co-responsáveis pela educação das crianças. Esse é um valor que nunca deixou de existir ali.

Loris Malaguzzi em seu livro “De ladrilho a ladrilho”, descreve como as pessoas pegavam os ladrilhos das casas destruídas para construir as escolas. Pessoas que não tinham dinheiro se juntaram para construir uma escola após segunda guerra. O impossível é uma categoria que precisava ser estudada. Se rompeu ali velhas regras de pedagogia e de cultura. Precisamos eleger com força valores para criar uma pedagogia dos possíveis, para poder sonhar e imaginar uma escola viva que possa acolher a complexidade das diferenças. Uma escola que possa nutrir nas famílias e crianças um sentimento de pertencimento. Participação não é uma caridade, mas um valor básico, de uma educação laica e democrática. Significa dialogar com administradores e politicos, dar visibilidade ao cotidiano e a vida da escola, para que não seja somente considerado os balanços e estatísticas. Criação de uma escola cheia de ambientes bonitos, que todos cuidam, em que todos podem liberar suas energias criadoras, onde se pode cultivar duvidas e desejos de aprender. Aprender a aprender é um direito que tem que se reivindicar com forca.

Utopia - palavra comprometida que acompanha a história da humanidade à séculos. Eduardo Galeano afirmou: “Me cerco dois passos e ela se distancia mais dois passos. Mesmo que de que eu caminhe nunca a alcançarei”.

Utopia serve para caminhar. Mas para onde? Em que direção? Caminhar em direção a uma utopia da educação. Utopia é a única esperança que orientará a historia do homem.

Em sua ultima fala, finalizando o congresso, Irene Balaguer, presidente da Associació Rosa Sensat salientou a oportunidade que tivemos de compartilhar experiências e de comprovar que não estamos sozinhos. Citou Maria Montessori que dizia que a educação é a revolução mais pacífica que existe e por isso é tão perigosa. O que estamos fazendo é uma revolução pacífica. Citou também Gandhi, que afirmava que para ser pacifista de verdade é imprescindível lutar contra a injustiça. Portanto, queremos uma escola que seja revolucionária, que faca uma revolução pacífica que nao permita a injustiça.

Por fim, conclama a todos a realizar no dia 07 de novembro, uma ação coletiva em favor da educação infantil que queremos.

Para quem quiser acompanhar os trabalhos da Associació Rosa Sensat, segue mo link pra a página web e para a fanpage no facebook.


Abraços!

Um comentário:

  1. Professora Janaína, tenho observado muito o comportamento das pessoas e analisado. Após duas graduações, minha forma de pensar mudou um pouco ou, acho que posso dizer muito e, talvez a sociedade e suas exigências ao mercado de trabalho também;
    Hoje, estamos cercados de informações na internet e em quaquer canal de televisão que quisermos.Acredito que não exista um ser humano, que viva sem os meios de comunicação. Ou seja, a informação está disponível até mesmo "aos analfabetos".
    Os meios de comunicação, podem ser vistos pelo professor como algo ruim ou, como um instrumento auxiliar. Deixar uma criança, o dia todo frente à televisão em minha humildade opinião, não é nada adequado. Mas, selecionar programas e planejar um tempo para assistir com a criança, pode ser muito produtivo como estratágia para trabalhar linguagem e relações interpessoais.
    Trabalhar com desenhos mimeografados e cópias, não é uma estratégia quando o educador foca o processo e não produto final.

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