Na edição de abril da revista Ei - Educação Infantil, da editora segmento saiu uma entrevista minha sobre a rotina. Já está nas bancas para quem quiser ler a reportagem na íntegra. Mas aproveito para trazer para vocês algumas reflexões sobre o tema.
A rotina é importante, ela é o alicerce da criança. Quanto menores
de idade, mais estável a rotina precisa ser. As crianças antecipam o que farão
e tem mais segurança em suas tentativas. Não saber o que vai acontecer reduz a
autonomia, porque a criança vai sempre perguntar ao adulto: o que faremos
agora? O que vai ser? Além disso,
a rotina não quer dizer
necessariamente repetição, elas tem oportunidade de testar suas
habilidades, tentar de novo o que havia iniciado antes, reorganizar e reviver
experiências. O problema não está na idéia de rotina em si, mas em desconsiderar
a singularidade dos sujeitos e tratá-los homogeneamente. Ter rotina não quer
dizer fazer sempre tudo junto.
“Todo mundo faz a
mesma coisa ao mesmo tempo o tempo todo”. As
instituições educacionais são muito marcadas por essa idéia. E naquelas
destinadas a educação da criança pequena isso nem sempre é muito diferente.
Todos dormem, comem, vão ao banheiro, desenham, esperam para fazer algo sempre juntas.
Mas
como conciliar
tempos diversos em uma instituição que é essencialmente coletiva?
Esse é um grande desafio dos educadores da infância e que para respondê-lo, há
algumas reflexões anteriores que precisam ser feitas. A
primeira reflexão que acho importante pontuar se refere ao papel da educação
infantil e sua especificidade. Estamos falando de crianças pequenas, que estão
construindo sua personalidade e se percebendo enquanto sujeitos singulares, que
tem necessidades, desejos, vontades e recusas, que pensam o mundo e atribuem
sentido a ele, a partir das experiências que vivenciam. Aí reside o principal
papel do educador da infância que é o cuidado educativo (ou cuidar/educar
indissociável que se fala tanto!). Cuidar/educar refere-se a estar atento as necessidades, desejos e inquietações das crianças
em todas as suas dimensões (afetiva, cognitiva, motora,...); também quer dizer garantir
a proteção, segurança e bem estar das crianças e, organizar ambientes que
estimulem sua imaginação e agucem sua curiosidade.
Isso exige um educador que seja um intérprete das
manifestações crianças (já que nem todas conseguem verbalizar oralmente essas
necessidades), que consiga ter uma escuta atenta e sensível à elas. Incorporar
esse princípio que vem sendo recorrentemente enfatizado em quase todos os
documentos oficiais é o primeiro desafio! Ainda há um ideário muito forte de
que ser professor é dar lições, controlar a turma e garantir a disciplina
(entendida como todos em silêncio) e isso se revela com muita intensidade nas
práticas e na organização do tempo e espaço de muitas instituições, que
valorizam as chamadas “atividades
pedagógicas” como mais nobres e não consideram a dimensão integral que a
formação da criança pequena exige.
O modo como compreendemos nosso papel como educadores da
infância, como vemos as crianças se
revela na organização dos espaços e tempos na instituição. Por isso que
para realizar essa organização, é preciso refletir profundamente sobre isso.
Mas ainda que tenhamos clareza dessa especificidade, o
desafio ainda permanece. Novamente a mesma pergunta: Como conciliar
tempos diversos em uma instituição que é essencialmente coletiva?
Daí proponho uma segunda reflexão: O professor da infância não
precisa ser o centralizador de tudo, as crianças não aprendem apenas a partir
de sua palavra e de sua intervenção direta. Interessante que sempre que peço
para que meus alunos da graduação em
Pedagogia planejem uma seqüência de atividades com as crianças, a maioria das
propostas estão centralizadas na fala do professor: é ele que comanda o tempo
todo.
Organizar espaços (cantos) em que as crianças possam se
organizar em pequenos grupos, ficar sozinhas quando sentirem necessidade
(principalmente, em instituições de período integral, o atendimento a essa
necessidade precisa ser garantida) é fundamental. Quando estão concentradas
nesses cantos, elas não necessitam da atenção constante do professor, que pode
se concentrar em algumas crianças por vez de modo a conhecê-las mais
profundamente. Por isso, é preciso
prever cotidianamante tempo para que as crianças possam trabalhar em diferentes
agrupamentos, com espaços desafiadores.
A hora do sono é um momento interessante para perceber como
estão sendo garantidas as singularidades das crianças. Muitas crianças precisam
dormir durante o dia, nosso corpo precisa de descanso e as crianças que estão
vivendo muitas experiências intensamente, em geral, precisam desse tempo. Mas,
como somos seres dotados de
singularidade, isso não é uma regra absoluta. Existem crianças que não tem
necessidade de dormir à tarde e ficam o tempo todo durante a “hora do sono”
acordada. Algumas “brigam” como sono, mas outras realmente não sentem
necessidade de dormir e esse momento chega a ser torturante. Cabe o olhar sensível
e investigativo do educador e da instituição para tentar entender a necessidade
das crianças. Ao invés de tentar fazê-las dormir a qualquer custo, podem
organizar um outro espaço para acolher essas crianças em outras atividades.
Muitas instituições vem fazendo isso com muita tranqüilidade, há bastante tempo.
Embora isso não seja tão fácil, uma vez que por falta de tempo de formação, algumas
instituições optam por reunir seus educadores nesses momentos de maior
“calmaria” na rotina, o que obviamente precisa ser repensado.
O maior desafio da educação infantil é inserir, de fato, as crianças e suas necessidades no
centro do processo educativo, como prega as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil. Alguns questionamentos que sempre faço são: A
instituição é de fato voltada para as crianças ou é pensada para os adultos? Em
que medida as crianças e suas singularidades tem sido contempladas? Como temos
pensado sobre isso? Que momentos da rotina precisam efetivamente ser coletivos,
no sentido que todos fazem algo juntos? E como contemplar a diversidade mesmo
em momentos coletivos, como a hora do almoço, por exemplo, considerando que nem
todos comem no mesmo ritmo? São várias as tentativas que muitas instituições
vem fazendo, com diferentes propostas para enfrentar esses desafios. Queremos realmente
enfrentá-lo? Cremos na criança como centro e na garantia de sua singularidade? O
modo como respondemos a todas essas questões é que nos dará pistas sobre como
organizamos, a partir dos nossos contextos, nossos tempos e espaços de
convivência.
Na minha humilde opinião os espaços de Educação Infatil os CEIs não contemplam as singularidades das crianças e nem dos adultos.Concordo quando diz que a rotina tem que ser repensada.E me identifico quando li o trecho que diz que nem todos comem no mesmo ritmo ou dormem ao mesmo tempo.Infelizmente, as crianças são tratadas por numeros e me sinto angustiada ao ter que oferecer o mesmo prato igualzinho( arroz, feijão,salada,verdura ou legume cozido e carne) para todos e acelerar o momento que eu reconheço que é só dele mas que disfarçadamente eu o obrigue a consumir em 15minutos uma criança de 1 ano e meio :( !
ResponderExcluirFico mais angustiada ainda quando olho para o espaço que trabalho e realizo reflexões sobre minha pratica.
Amo de mais seu blog por isso quero contribuir com esse material para enrriquece-lo ainda mais.
ResponderExcluirPlanos de aula (Primeiro dia na escola)
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