domingo, 5 de maio de 2013

Rotina na Educação Infantil

Olá a todas e todos!

Na edição de abril da revista Ei - Educação Infantil, da editora segmento saiu uma entrevista minha sobre a rotina. Já está nas bancas para quem quiser ler a reportagem na íntegra. Mas aproveito para trazer para vocês algumas reflexões sobre o tema.





A rotina é importante, ela é o alicerce da criança. Quanto menores de idade, mais estável a rotina precisa ser. As crianças antecipam o que farão e tem mais segurança em suas tentativas. Não saber o que vai acontecer reduz a autonomia, porque a criança vai sempre perguntar ao adulto: o que faremos agora? O que vai ser?  Além disso, a rotina não quer dizer  necessariamente repetição, elas tem oportunidade de testar suas habilidades, tentar de novo o que havia iniciado antes, reorganizar e reviver experiências. O problema não está na idéia de rotina em si, mas em desconsiderar a singularidade dos sujeitos e tratá-los homogeneamente. Ter rotina não quer dizer fazer sempre tudo junto.
“Todo mundo faz a mesma coisa ao mesmo tempo o tempo todo”. As instituições educacionais são muito marcadas por essa idéia. E naquelas destinadas a educação da criança pequena isso nem sempre é muito diferente. Todos dormem, comem, vão ao banheiro, desenham, esperam para fazer algo sempre juntas.
Mas como conciliar tempos diversos em uma instituição que é essencialmente coletiva? Esse é um grande desafio dos educadores da infância e que para respondê-lo, há algumas reflexões anteriores que precisam ser feitas. A primeira reflexão que acho importante pontuar se refere ao papel da educação infantil e sua especificidade. Estamos falando de crianças pequenas, que estão construindo sua personalidade e se percebendo enquanto sujeitos singulares, que tem necessidades, desejos, vontades e recusas, que pensam o mundo e atribuem sentido a ele, a partir das experiências que vivenciam. Aí reside o principal papel do educador da infância que é o cuidado educativo (ou cuidar/educar indissociável que se fala tanto!). Cuidar/educar refere-se a estar atento as necessidades, desejos e inquietações das crianças em todas as suas dimensões (afetiva, cognitiva, motora,...); também quer dizer garantir a proteção, segurança e bem estar das crianças e, organizar ambientes que estimulem sua imaginação e agucem sua curiosidade.
Isso exige um educador que seja um intérprete das manifestações crianças (já que nem todas conseguem verbalizar oralmente essas necessidades), que consiga ter uma escuta atenta e sensível à elas. Incorporar esse princípio que vem sendo recorrentemente enfatizado em quase todos os documentos oficiais é o primeiro desafio! Ainda há um ideário muito forte de que ser professor é dar lições, controlar a turma e garantir a disciplina (entendida como todos em silêncio) e isso se revela com muita intensidade nas práticas e na organização do tempo e espaço de muitas instituições, que valorizam as  chamadas “atividades pedagógicas” como mais nobres e não consideram a dimensão integral que a formação da criança pequena exige.
O modo como compreendemos nosso papel como educadores da infância, como vemos as crianças se  revela na organização dos espaços e tempos na instituição. Por isso que para realizar essa organização, é preciso refletir profundamente sobre isso.
Mas ainda que tenhamos clareza dessa especificidade, o desafio ainda permanece. Novamente a mesma pergunta: Como conciliar tempos diversos em uma instituição que é essencialmente coletiva?
Daí proponho uma segunda reflexão: O professor da infância não precisa ser o centralizador de tudo, as crianças não aprendem apenas a partir de sua palavra e de sua intervenção direta. Interessante que sempre que peço para  que meus alunos da graduação em Pedagogia planejem uma seqüência de atividades com as crianças, a maioria das propostas estão centralizadas na fala do professor: é ele que comanda o tempo todo.
Organizar espaços (cantos) em que as crianças possam se organizar em pequenos grupos, ficar sozinhas quando sentirem necessidade (principalmente, em instituições de período integral, o atendimento a essa necessidade precisa ser garantida) é fundamental. Quando estão concentradas nesses cantos, elas não necessitam da atenção constante do professor, que pode se concentrar em algumas crianças por vez de modo a conhecê-las mais profundamente.  Por isso, é preciso prever cotidianamante tempo para que as crianças possam trabalhar em diferentes agrupamentos, com espaços desafiadores.
A hora do sono é um momento interessante para perceber como estão sendo garantidas as singularidades das crianças. Muitas crianças precisam dormir durante o dia, nosso corpo precisa de descanso e as crianças que estão vivendo muitas experiências intensamente, em geral, precisam desse tempo. Mas, como somos seres  dotados de singularidade, isso não é uma regra absoluta. Existem crianças que não tem necessidade de dormir à tarde e ficam o tempo todo durante a “hora do sono” acordada. Algumas “brigam” como sono, mas outras realmente não sentem necessidade de dormir e esse momento chega a ser torturante. Cabe o olhar sensível e investigativo do educador e da instituição para tentar entender a necessidade das crianças. Ao invés de tentar fazê-las dormir a qualquer custo, podem organizar um outro espaço para acolher essas crianças em outras atividades. Muitas instituições vem fazendo isso com muita tranqüilidade, há bastante tempo. Embora isso não seja tão fácil, uma vez que por falta de tempo de formação, algumas instituições optam por reunir seus educadores nesses momentos de maior “calmaria” na rotina, o que obviamente precisa ser repensado.
O maior desafio da educação infantil é inserir, de fato,  as crianças e suas necessidades no centro do processo educativo, como prega as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Alguns questionamentos que sempre faço são: A instituição é de fato voltada para as crianças ou é pensada para os adultos? Em que medida as crianças e suas singularidades tem sido contempladas? Como temos pensado sobre isso? Que momentos da rotina precisam efetivamente ser coletivos, no sentido que todos fazem algo juntos? E como contemplar a diversidade mesmo em momentos coletivos, como a hora do almoço, por exemplo, considerando que nem todos comem no mesmo ritmo? São várias as tentativas que muitas instituições vem fazendo, com diferentes propostas para enfrentar esses desafios. Queremos realmente enfrentá-lo? Cremos na criança como centro e na garantia de sua singularidade? O modo como respondemos a todas essas questões é que nos dará pistas sobre como organizamos, a partir dos nossos contextos, nossos tempos e espaços de convivência.








2 comentários:

  1. Na minha humilde opinião os espaços de Educação Infatil os CEIs não contemplam as singularidades das crianças e nem dos adultos.Concordo quando diz que a rotina tem que ser repensada.E me identifico quando li o trecho que diz que nem todos comem no mesmo ritmo ou dormem ao mesmo tempo.Infelizmente, as crianças são tratadas por numeros e me sinto angustiada ao ter que oferecer o mesmo prato igualzinho( arroz, feijão,salada,verdura ou legume cozido e carne) para todos e acelerar o momento que eu reconheço que é só dele mas que disfarçadamente eu o obrigue a consumir em 15minutos uma criança de 1 ano e meio :( !
    Fico mais angustiada ainda quando olho para o espaço que trabalho e realizo reflexões sobre minha pratica.

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