O professor André Carrieri escreveu uma série de textos sobre Documentação Pedagógica que nos ajudam a compreender melhor esse conceito e sua interrelação com a fotografia. Vou postando para vocês ao longo das próximas semanas.
Abraços!
1. Registro ou
Documentação?
Registro
é qualquer tipo de fotografia que deixa uma marca, o congelamento de um instante,
marcado por um tempo e um espaço. Documentação Pedagógica - na forma de uma
fala ou uma imagem da infância - torna visível uma situação de aprendizagem,
dentro de um contexto pedagógico específico que envolve a atenção e o interesse
de um grupo específico de crianças, de um grupo de educadores específicos que
se debruçam sobre questões educadoras também específicas. Existe um mergulho
pedagógico, uma discussão implícita, gerada por um grupo de indivíduos sobre a
fotografia.
Você
pode ter uma mãe fotografando uma criança "resolvendo um problema"
dentro de casa, e mesmo assim não será documentação pedagógica. Um exemplo: a
criança vê uma fruteira com bananas, arrasta o banquinho para alcançar as
frutas. Embora tenha uma narrativa, embora tenha uma sequência, o ato
fotográfico é um ato vindo de fora, isto quer dizer, sem discussão de um grupo,
sem a imersão do fotógrafo num processo de aprendizagem coletivo. A imagem,
nesse exemplo, é um registro, não uma documentação, porque é um fenômeno
isolado, descontextualizado.
Acompanhemos
uma rota paralela com a história da fotografia. Grosseiramente, podemos dividir
a fotografia em três campos de atuação: fotojornalismo, propaganda, documental.
O fotojornalismo, por exemplo, está para o registro simples, assim como a
documentação está para o documental. A fotografia no fotojornalismo é uma
marca, um congelamento de um fato, com uma profundidade relativa, com uma existência
que vinculada ao tempo de uma manchete de jornal. Já a propaganda ela serve
para protocolos de marketing, de comercialização, de venda. Nesse caso, até
isso as escolas fazem, quando fotografam crianças felizes, brincando, servindo
para um propósito de vender uma ideia de infância feliz. Montamos fotos
"bonitinhas" para atingir o "cliente".
A
documentação pedagógica conversa com o status da fotografia documental (o
documentarismo nasceu na década de 1930, na Alemanhã e nos EUA). Ela carrega
uma intencionalidade, um contexto social, cultural, histórico, de um tempo, de
um lugar, de um grupo social ou de uma sociedade. Implicitamente, existe um
autor, uma visão sobre uma história humana, uma interpretação de um artista,
como um ensaio autoral. Na documentação pedagógica existe tudo isso,
principalmente por haver uma intencionalidade pedagógica, uma leitura de um professor,
ou de um grupo de educadores. Nesse caso, existe por trás da imagem um
"pronunciamento", uma mensagem, um conceito a ser discutido. A vida
útil dessa fotografia é maior. Ela serve a objetivos específicos de um grupo
específico.
Podemos
separar assim também: pensar numa imagem para ver ou pensar numa imagem para
discutir. A documentação pedagógica busca imagens que promovam espaços de
reflexão. Quando a foto fala "Olhe,
meu filho está crescendo. Que gracinha!" é uma coisa. Outra coisa é
ela dizer "Preste atenção, a criança
está crescendo por esse motivo, dentro desse processo, junto com esse grupo, e
com isso ela está querendo dizer alguma coisa". E nós, como professores
que somos, estamos colocando a fotografia na roda, de um grupo de pais, de
mestres, de crianças, para discutir.
André
Carrieri
04
de Julho de 2014
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