A Base Curricular Nacional está em consulta pública no governo Federal. Qualquer cidadão ou instituição pode entrar no site e dar sua opinião sobre sua organização e conteúdos. Todavia, é preciso analisar a proposta sob o ponto de vista de uma análise conjuntural mais ampla. A que ou a quem serve a Base Curricular Nacional?
Esse foi o questionamento
trazido pelo Professor Luiz Carlos Freitas, da UNICAMP, em sua fala no último Congresso
Paulista de Educação – COPEDI, no dia 07/11 em São Carlos. O professor chamou a
atenção para a internacionalização da política educacional e a forma como
agências estrangeiras estão instituindo agendas a serem implantadas nos
diferentes países. Dentro dessa agenda, há 4 grandes blocos de políticas:
·
Responsabilização
·
Avaliação
·
Meritrocracia
·
Privatização
Em primeiro lugar, se
responsabiliza os Estado pelo cumprimento de metas, em geral, metas distantes
de se atingir dada as situações concretas vividas por cada país. Sob o discurso: “Temos que ser exigentes, porque se puser pouco não sai nada”, os
Estados são responsabilizados, avaliados e o não atingimento das metas tem aberto
espaço à privatização da Educação, a partir da concepção de que a rede privada
é melhor e mais competente do que a administração pública.
A avaliação e o “
atestado de incompetência” dos Estados precisam de uma base para se legitimar.
Nesse sentido, a Base Curricular Nacional adquire um importante papel. Afirma o
professor Freitas que sem uma base não tem como fazer uma avaliação que tenha
uma mesma referência para todos e não há como padronizar. A base oferece
elementos de padronização, controle do sistema pedagógico e realinhamento de
todos os sistemas de avaliação tanto dos alunos quanto dos docentes.
A produção de materiais
didáticos pelas editoras e sistemas de ensino também precisa de uma Base Nacional Comum
senão a indústria de produção não tem uma referência. (Haja visto o que foi feito em nome dos Referenciais e Parâmetros
Curriculares Nacionais que deram margem à proliferação dos sistemas apostilados
no país e, especialmente em São Paulo, Estado com maior número de redes com
sistemas de ensino privados). Assim, para que qualificar a formação do
professor? Uma formação técnica para saber encaminhar o trabalho com as
apostilas servem ao propósito. Quanto mais desqualificar a formação, menos
resistência. Concepção de educação é substituída por formação técnica ("Professores
mal formados, não tem competência", baseado nesse discurso tem se justificado o
uso das apostilas, todavia, ao utilizar as apostilas, não se tem formação
qualificada, caso contrário, os professores prescindem dela, o que não é
interessante para o mercado).
O
professor Luiz Carlos alerta para o fato de que grandes organizações internacionais
estão a caminho para disputar o mercado brasileiro. Entre elas, destaca a PEARSON, conglomerado inglês, responsável pela
elaboração de testes de TDAH em crianças. Esse mercado precisa de escalas de
padronização para se firmar, nesse sentido a Base Curricular Nacional tem muito a contribuir.
Um
outro aspecto alertado pelo professor Freitas é a terceirização da gestão. A
descrença de que o serviço público pode dar conta da educação, bem como a desmoralização do magistério tem gerado experiências em que as escolas
continuam sendo públicas, mas a gestão terceirizada. Esse é o caso do Estado de
Goiás que tem 30% das escolas de ensino fundamental com gestão terceirizada. A
privatização em massa do ensino superior no Brasil, o mercado das testagens
privadas em larga escala, como é o caso de Florianópolis - em que uma empresa
internacional elaborou um sistema de avaliação de professores; e do Rio de
Janeiro - com a avaliação em larga
escala das crianças pequenas a partir de testes americanos; bem como o crescimento dos discursos em defesa
das escolas “charters” americanas por parte dos reformistas educacionais
brasileiros, vem demonstrando que os
alertas do professor Luiz Carlos Freitas precisam ser considerados ao
discutirmos a Base Nacional Comum e os interesses a que ela se presta.
Na educação infantil, há
uma louvável tentativa de traduzir na Base as Diretrizes
Curriculares Nacionais da área, sob a perspectiva da criança como centro do projeto pedagógico, todavia,
as experiências brasileiras aqui citadas e tantas outras de privatização
vividas em outros países, vem demonstrando que a ampliação das experiências
discentes não são a principal preocupação na construção de uma Base Curricular
Nacional atualmente. É preciso analisar não só o conteúdo da Base Comum
Nacional – como a consulta pública oferece oportunidade, mas o significado que
essa Base ocupa dentro do cenário atual de reformismo educacional.
Olá!
ResponderExcluirÓtima análise de conjuntura.
Infelizmente é a realidade que já está sendo implementada em muitos estados e municípios.
Além disso, entendo que a BNC é mais uma ingerência do Estado na organização própria das incontáveis comunidades educativas que se constituem neste país continental que é o Brasil.
Sobre a forma de contribuição e participação por meio do questionário/consulta pública disponibilizados pelo MEC, ressalto que marcar itens inicialmente não se constitui uma participação efetiva. E, ainda que o fosse, trata-se predominantemente do que Luiz Carlos Freitas apontou com clareza: padronização e controle por parte do Estado, visando interesses escusos.
Mobilizemo-nos!
Abraços,
Dany.