sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O que fazer com os bebês?

      Olá a todas e todos!

      O trabalho com os bebês é um desafio para nós educadoras da infância. O que fazer com eles? Que trabalho “pedagógico” pode ser desenvolvido com crianças tão pequenas?

    Acredito que o maior desafio de trabalhar com os pequenos está em redefinir o papel de professora. Quando pensamos em professor, pensamos em escola, e pensar em escola, muitas vezes, traz a idéia de dar aulas, apresentar conteúdos temáticos, solicitar registros sistematizado dos alunos. E muitos se perguntam: como fazer isso com bebês?

     No livro, Educação Infantil: Saberes e Fazeres na Formação de Professores, organizado por Luciana Ostetto, alunas do curso de pedagogia da Universidade Federal de Santa Catarina se perguntaram isso e descrevem suas práticas de estágio em um berçario de uma instituição de educação infantil. Em um texto belissímo, intitulado: “Como ser professora de bebês”, Andressa Celis Souza e Vanilda Weiss descrevem como foi “encarar” a idéia de que a elas ficou destinado estagiar no berçario. As angústias, dificuldades, prazeres e descobertas são relatados ali de uma forma muito verdadeira e aberta.


      No texto, elas contam que a primeira “atividade” oferecida às crianças de 8 meses a dois anos foi pintar, com tinta, flores previamente recortadas por elas para enfeitar a instituição por ocasião da primavera. As crianças se interessaram muito mais pela experiência de sentir a tinta, tocar, esparramar, do que pela realização da comanda dada pelas educadoras. Essa experiência possibilitou que as estagiárias percebessem que outro encaminhamento era necessário. Assim, em um segundo momento ofereceram novamente a tinta as crianças, mas dessa vez em uma exploração muito mais livre e cheia de sentidos.

      Explorar diferentes tipos de texturas, tintas, ouvir histórias, músicas, brincos e acalantos são algumas possbilidades interessantes a serem oferecidas aos bebês, mas o modo de conduzi-las exige que nós, educadores da infãncia, nos despreendamos do carater rígido e instrucional que está por trás do nosso imaginário de escola.

     Outro ponto que gostaria de ressaltar nessa reflexão é o aprendizado relativo ao cuidado de si, tão importante nessa faixa etária.

      No livro,  Educar os três primeiros anos: a experiência de Loczy, organizado por Judith Falk, no capítulo initulado: "A participação da criança no cuidado de seu corpo”, escrito por Katalin Hevesi, há exemplos de práticas que demonstram o quanto uma troca de fraldas/ roupa pode gerar diferentes aprendizados dependendo da maneira como é conduzida.

      Em um dos exemplos, Katalin cita uma educadora que ao fazer essa troca, entrega um objeto para a criança se distrair para que essa atividade seja mais rápida. Mas, ao pedir que a criança colabore com a troca em alguns momentos, a educadora acaba tendo dificuldades e sendo autoritária na solicitação à criança. Neste exemplo, cita a autora, a criança é tratada como objeto e é somente considerada quando a educadora precisa de sua ajuda.

     Em contrapartida, outra prática é citada. Nela, outra educadora, desde o início da troca estabelece uma intensa relação com a criança conversando sempre com ela, informando o que está fazendo. Essa educadora solicita sua colaboração e espera pacientemente que ela responda a essa solicitação. Pode parecer uma atitude simples, mas é cheia de significados. A segunda educadora considera a criança e a trata como sujeito nessa relação e sua atitude faz com que a criança perceba isso.

    Na mesma linha, o vídeo “Jardim da Infância Nokken”, que trata de uma escola em Copenhagen na Dinamarca, baseada nos princípios da Pedagogia Waldorf, demonstra uma relação muito bem estabelecida entre o cuidar e educar nas mínimas ações das professoras. São atitudes que vão propiciando que as crianças se desafiem, mas com a segurança de quem tem um educador que as cuida (no sentido de as apoiar e possibilitar que elas tenham contato com diferentes experiências). Fica o convite para que assistam.

      Finalizando, trabalhar com os bebês exige sensibilidade, mas também muito conhecimento: conhecimento das possibilidades de trabalho com eles, conhecimento do desenvovimento infantil e principalmente conhecimento de como conhecer melhor cada um deles para podermos desafiá-los e promover melhores aprendizados.

    Abraço!
 

16 comentários:

  1. Eu sinto que muitas vezes a atividade não faz sentido pra criança devido a uma preocupação exagerada em mostrar serviço e resultado aos adultos, sejam eles, os pais, o coordenador, o diretor, o próprio professor ou seja lá quem for... Então tudo tem que ser perfeito, bem acabado, bem ensaiadinho...
    Aprendi num curso sobre linguagem corporal, o quanto é importante deixar a criança improvisar, ao invés de só ensaiar coreografias prontas. Acho que as coisas começam a ganhar sentido pra elas quando lhes damos maior liberdade de expressão mesmo. O que não significa cruzar os braços, pelo contrário, pois, promover ambientes e materiais propícios, além de mediar e intervir quando necessário demandam planejamento e trabalho. Talvez mais até do que simplesmente mandar: "_Pinta aqui de verde, menino!"

    Ótima sugestão de leitura!

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  2. Já tive a oportunidade de ler o texto "A participação da criança no cuidado do seu corpo" e fiquei impressinonada com o quanto podemos aprender sobre a Educação dos bebês. Coisas simples, no cotidiano, podem apresentar muito significado nessa faixa etária, como a importância de levar a criança a desenvolver a consciência sobre o cuidado de si... Me fez pensar também, em "banhos ditos pedagógicos", nos quais as crianças se distraem com bichinhos ou livros de banho, que é uma atividade importante, porém o banho em si, a experiência do momento do banho, as ações presentes nesse momento, são riquíssimas fontes de aprendizagem!

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  3. Estou lendo, no momento o texto "A Especificidade da Ação Pedagógica com os Bebês", de Maria Carmem Barbosa, faz parte , dos "textos para consulta pública", tendo em vista a reelaboração das "Orientações Curriculares Nacionais para Educação Infantil". Trata-se de um texto bastante atual, preciso, bem focado na Educação de bebês em contextos coletivos. Parece ser uma leitura fundamental para todos que trabalham em Educação Infantil, especialmente na faixa-etária de 0 a 3 anos.

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  4. Oi Fhernandha!
    Que bacana! Tenho uma admiração muito grande pelas produções da Maria Carmem Barbosa. Você tem o link direto?
    Abraço!

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  5. Oi Janaína, o endeço eletrônico é esse, veja se vc consegue acessar. Há vários textos legais sobre as Diretrizes Curriculares.
    Abraço!

    http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=15860&Itemid=1096

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  6. As crianças "falam" (usam) um idioma diferente daquele que falamos. As mensagens que emitem passam necessariamente por seus corpos. Quanto mais novinhas, menos se pronunciam em palavras ou balbuceios. A boca, o aparelho fonador tem a mesma importância que o joelho, o cotovelo, a barriga ou o nariz. Se insistirmos em pensar como adultos, com o idioma dos adultos e a forma de refletir e raciocinar dos adultos, condenaremos os pequeninos a terem que se virar num mundo que ainda não lhes oferece sentido.
    A transição do mundo infantil para o mundo dos adultos se dá de forma lenta, de modo que paulatinamente a linguagem que perpassa todo o corpo vai migrando para boca, garganta, pulmões. Mas se atentarmos cuidadosamente, perceberemos que essa transição nunca se realiza por completo. Nós mesmo ainda "falamos" muito com o corpo...
    Um planejamento que permita aos bebês se expressarem por meio de seus corpos, experimentando diferentes sensações, diferentes estímulos físicos e diversas possibilidades se constituirá numa educação mais adequada a suas características de crianças.
    A professora de bebês deveria receber uma formação, acima de tudo, de educadora de arte e do corpo!
    Abraceijos,

    Flávio Boleiz

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  7. Nossa, adorei tua postagem e esses últimos comentários! Me senti acalentada enquanto professora de bebês. Utilizo muito as referências citadas por ti e os textos da Maria Carmem, também utilizo muito os testos da Fernanda Tristão (q estão nos livros organizados pelo Altino José Martins Filho). Aproveito para te convidar pra visitar meu blog com reflexos sobre as turmas de Berçários da minha escola.
    Bjs
    Marisete schmidt
    http://queroumcolinhoeprimeirospassinhos.blogspot.com

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  8. OLá Janaina senti falta também em sua apresentação do comentário dos artigos de Fernanda Tristão sobre o trabalho docente com os bebês, estes se encontram nos livro "Criança pede respeito" e "infância Plural" os dois organizados pelo professor Altino José Martins Filho, são editados pela mediação. Indico para vc e tenho certeza que irás adorar são excelentes referência nacional hoje no Brasil para a educação infantil, pegue o link na editora mediação e leia os livros.
    aguardo sua posição sobre as leituras indicadas
    parabéns pelo blog e logo volto a lhe visitar colega.
    Marcia Rio de Janeiro
    abraços

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  9. Olá Janaina, você sabe como podemos ter acesso ao vídeo "Jardim da infância Nokken"?
    Também gostaria, com respeito, de corrigir sua fala sobre o livro organizado pela professora Luciana Ostetto, pois as acadêmicas são da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e não Ferderal de São Carlos.
    Sugiro para leitura a dissertação da Rosinete Valdeci Schmitt que encontra-se:
    http://www.ced.ufsc.br/~nee0a6/teses.html
    A tese da Daniela Guimarães, também é muito boa, me escreva que eu lhe envio.
    Abraços,
    Andressa.
    andressapeg@hotmail.com

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  10. Oi Andressa!
    Obrigada pela correção, já arrumei na postagem!
    O DVD sobre o Jardim de infância Nokken pode ser adquirido no site da aliança pela infância. Segue o link completo: http://www.aliancapelainfancia.org.br/produtos_detalhe.php?id=16
    Vou te escrever sim. E vamos trocando informações, pois é assim que vamos fortalecendo a luta pela garantia dos direitos das crianças nas instituições de educação infantil.
    Grande abraço!

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  11. Janaína,

    Sou mãe de primeiríssima viagem de um menino lindo, chamado Felipe. Dedico meus dias a cuidar dele...Ele tem 9 meses e achei maravilhosos seus comentários, na verdade muito esclarecedores. Sobre a troca de fraldas, vou mudar minha postura urgente, pois eu na ansia de entreter meu pequeno, me esforçava para variar os brinquedos e objetos para ele explorar enquanto fazia sua higiene. Na verdade, tudo falta de conhecimento sobre tantas nuances relacionadas a primeira infancia e educação... Acabei percebendo que não sei nada a respeito de técnicas e posturas adequadas no cuidado com meu bebê.
    Há alguma literatura que possa me indicar, além do livro citado: A participação da criança no cuidado do seu corpo" ?
    Muito obrigada.
    Amparo Soares
    amparoliveira@yahoo.com.br

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  12. Olá Janaina, realmente concordo com os comentários acima, pois os textos de Fernanda Tristão nos livros organizados por Altino José Martins Filho pela editora Mediação são muito bons, na verdade excelente produção sobre a educação dos bebês, vc poderia postá-los aqui como referência, pois já os li e utilizei em formação de professores em vários momentos nas instituições educativas. Vale muito a pena a divulgação do material...
    Maria Helena São Paulo

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  13. gostaria de obter maiores informações sobre o livro a participação das crianças no cuidado de seu corpo e vc por favor poderia postar os livros organizados por Altino José Martins Filho, me parecem ser muito bons mesmo...
    fico no aguardo
    abraços
    Mariana de Recife

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  14. Oi Maria Helena, vou procurar a referência, muito obrigada!
    Mariana, o nome do livro é "Educar os três primeiros anos: a experiência de Loczy", de Judith Falk.
    Amparo, em geral as discussões aqui se referem a educação e o cuidado de bebês em instituições coletivas, por isso nem sempre as indicações podem ser relacionadas a casa.
    Para todas: Indico um texto da Maria Carmen Barbosa chamado "As especificidades da ação pedagógica com os bebês" link: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=6670&Itemid=

    Abraço!

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